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Crônicas
26/06/2005 - 06h12
Não quero saber de Jornalixo
Núbia Tavares
 

Pára! Chega! Basta! Não dá! Não suporto mais! Eu estou no meu limite. Terceiro ano do curso de jornalismo e vendo morrerem as minhas esperanças naquela que, antes de ser uma escolha profissional, é a minha vida. Eu amo o jornalismo. É isso que quero ser. É isso que vou ser e ponto. Não quero ouvir mais sobre o quanto é ruim ser jornalista. O quanto se ganha pouco, e trabalha-se muito. Não quero ouvir que o mercado é cada dia menor, que não há esperança para quem vai entrar agora. Não quero ouvir e não quero acreditar. Já ouvi isso demais. Passei dois anos ouvindo de profissionais, professores e colegas que essa profissão é um lixo. Que não deveria desperdiçar tempo, dinheiro e talento nessa profissão. Que o jornalismo está fadado à morte. Que jornalistas não prestam. Que o jornalismo é uma porcaria e deveria estar na lata de lixo há tempos. Que é um "jornalixo".

Dois anos ouvindo essas coisas e uma esperança definhando aos poucos. Não quero acreditar que passei noites e noites estudando para um vestibular, para deixar para trás vinte, trinta candidatos, para agora me dizerem que fiz tudo errado. Foram noites e noites de sono, estudando de manhã, trabalhando à tarde, estudando a noite, tudo para suprir as deficiências da minha formação - já que sempre estudei em escola pública - e poder conseguir entrar num curso de jornalismo. Não quero acreditar que tudo isso foi em vão. Não quero acreditar que fiz meus pais se sacrificarem financeiramente para me manter morando longe de casa, tudo, tudo para que eu pudesse fazer o tão sonhado curso de jornalismo. Não, não é possível que tudo isso seja à toa.

Amo essa coisa de jornalismo demais. Amo mesmo. Mas quando me pego pedindo a todos os deuses que não me façam ir para a faculdade, é porque algo tem de errado. Mas, sinceramente, como se motivar? Os livros dizem que o jornalismo é a pior profissão do mundo. Os professores perdem aulas e aulas lembrando-nos que não vamos arrumar emprego. E, para completar, os colegas se deixaram dominar pelo clima de pessimismo. Não querem saber de nada. Levam o curso nas coxas, porque reprovação foi abolida do currículo. Os poucos alunos que querem aprender de verdade pouco podem fazer. Vejo professores excelentes sendo vetados de desenvolverem atividades interessantes porque a maioria só quer saber de receber seus salários. Eu queria muito ir à aula, mas que aula? O professor, coitado, fica lá, discursando para meia dúzia de gatos pingados. O resto? O resto não se dá o mínimo de trabalho de fazer o que quer que seja. Pensar, aprender para que, se hoje há CTRL+C, CTRL+V?

E o jornalismo? Ah, esse deixa pra lá... Ser jornalista pra quê? É cada vez mais quixotesco acreditar no jornalismo. Acreditar que ainda há esperança. Acreditar que ainda se pode mudar. Acreditar que as amarras da atual conjuntura ainda podem ser desfeitas. Todos parecem presos ao passado. A nostalgia impede a adaptação aos novos tempos. Ninguém quer fazer o presente. Ficam todos lamentando as glórias do passado. E o presente do jornalismo? Esse coitado, de tanto apanhar, ser espancado, violado, deve estar perdido em alguma fila do SUS, país afora.

E eu? Fico de braços cruzados vendo tudo isso acontecer diante dos meus olhos, sem abrir a boca para falar? Devo ver toda uma vida de sacrifícios em torno de um sonho acabar? Devo acreditar que o jornalismo é realmente esse monstro de sete cabeças sem solução que dizem? Devo me render ao tédio e à monotonia de aceitar que não há solução para os problemas do jornalismo na atualidade? Devo abandonar o meu grande e eterno sonho?

Vocês não perceberam a maldade que fazem? Quantos sonhos enterram? Quanto fazem mal para quem acredita nessa profissão e quer fazer alguma coisa por ela? Parem com isso! Núbias, Patrícias, Fernandos, Marias... Quantos estudantes não devem, nesse momento, estar vivendo o mesmo dilema que eu? Vendo suas esperanças sumirem pelo ralo? Vendo morrer todo um projeto de vida? Isso é crueldade! Pena máxima para vocês! Parem já com isso!

No meu caso, não é dessa vez que vocês vão me pegar. A esperança é pouca, mas ainda existe. E, enquanto ela existir, vocês não vão me convencer. Vou continuar acreditando que todas as noites de sonho, os sacrifícios financeiros, as lutas, o sonho de ser jornalista, tudo isso vale sim! Tampo meus ouvidos àqueles que querem acabar com as minhas esperanças. E isso não significa fechar os olhos às pedras, mas não desistir de retirá-las do caminho. Basta.


Nota do Editor: Núbia Tavares é estudante de jornalismo da Universidade Estadual de Londrina e repórter do jornal Folha da Região, de Mato Grosso do Sul.

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