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Crônicas
23/11/2017 - 06h30
O caso do banheiro masculino
Henrique Fendrich
 

Durante os seis anos que passei em Brasília me aconteceram muitas coisas estranhas, e algumas estranhíssimas. Às vezes eu ainda me lembro de um desses episódios, não porque ele signifique alguma coisa pra mim, até acho que já devia ter esquecido, mas é que, a cada ano, lá está o Facebook para me recordar do que vivi. Afinal, eu dificilmente resisto à tentação de compartilhar com o mundo todas as experiências insólitas de que sou vítima. Lá deixei, portanto, o episódio a que me refiro, até que um dia, à falta de outra coisa, decido aproveitá-lo para fazer uma crônica. Eis aí o caso do banheiro masculino.

Como o nome sugere, lá estava eu dentro de um banheiro masculino, fazendo, calmamente, o famigerado número 2. Esse banheiro ficava no térreo do prédio em que eu trabalhava e era um banheiro público. Eu nunca fazia o número 2 no banheiro da sala em que eu trabalhava, a fim de evitar constrangimentos, hã, profissionais. Pois bem, lá estava eu no dito banheiro, descarregando o excesso, logo após ter almoçado. O banheiro era pequeno, dois mictórios, uma pia e duas divisórias para se fazer número 2 sem ser incomodado. Eu havia tentando entrar na primeira e a porta estava emperrada. Como o banheiro estava vazio, não havia problema em ir para a outra divisória. Lá me tranquei e me instalei confortavelmente.

Eis que, de repente, escuto entrar alguém de salto alto. Bolas, sou um homem moderno, sei que, hoje em dia, isso não quer dizer mais nada, não é porque a pessoa está de salto alto que precisa ser mulher, hoje em dia as coisas estão meio misturadas. E não teria prestado muita atenção ao caso se a pessoa não tivesse tentado entrar na outra divisória, a da porta emperrada. Também não conseguiu entrar e então se voltou para mim, sabia que eu estava ali, a porta estava trancada e eu fazia uma sombra:

– Ô moça! Como faz para abrir essa porta aqui?

Tive então certeza de que a pessoa que usava salto era, realmente, uma legítima descendente das costelas de Adão, e o fato de me chamar de moça, embora me envaideça, era uma confirmação do seu engano. Primeiro eu fiz de conta que não havia ouvido, seria bem menos constrangedor se ela descobrisse por si só que estava no banheiro dos homens. Poxa vida, tinha dois mictórios ali!

Mas a mulher não percebeu nada, e pior, começou a se impacientar com o silêncio daquela mocinha. Foi até a minha porta e começou a bater:

– Moça! Ô moça!

Bem, aí não havia jeito, eu precisava mesmo usar essa voz de locutor de FM que Deus me deu. Tive que contar então a ela a dura e patética realidade:

– Minha senhora, este é o banheiro masculino.

Não vi, mas estou certo que uma expressão de terror tomou conta do seu rosto, e ela soltou então um grito de desespero, vindo do fundo de suas entranhas. E saiu chispando dali, como um raio mesmo, batendo a porta e tudo mais. Certamente nem parou para entrar no banheiro certo – alguma coisa a havia feito perder a vontade. Nem me agradeceu. Quanto a mim, terminei os meus afazeres, destranquei a porta, lavei as mãos e fiquei me olhando no espelho: até que eu dava uma linda mocinha.

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