A chegada da família do Dr. Otto Hernert Pohl em São Sebastião ficou marcada na minha infância porque eles haviam enfrentado a II Guerra na Alemanha e gostavam de conversar sobre isso com meu pai. Ele era dentista e foi major do exército alemão. Mais tarde um dos seus filhos o Walter Pohl publicou o livro “O passaporte... para a vida!” contando essa história. São Sebastião nessa época, por causa da proximidade com Santos, tinha muitos simpatizantes do partido comunista, entre eles meu pai. Quando a família resolveu construir a casa na Praia Preta, meu pai foi contratado para o serviço. Na obra de abertura do terreno para construir o alicerce, foi encontrado um pequeno canhão de ferro que pode ter sido do Forte do Araçá, que era por ali. Quando isso aconteceu meu pai avisou o Dr. Otto, que autorizou a construção de um suporte de madeira, que ficava no jardim com o canhão em exposição. Nessa época haviam muitos informantes do governo, que costumavam caguetar as reuniões ou qualquer outra movimentação política na cidade. Tudo era considerado subversão ou comunismo. Com isso certo dia, meu pai estava na obra do Dr. Otto e chegaram dois jepps, do exército, com soldados armados que invadiram a propriedade perguntando: - Esta é a casa do alemão que tem um canhão? Meu pai e os pedreiros da obra paralisaram o serviço e ele falou: - Sim, o canhão é esse aí! Mostrando o canhão no jardim. Depois de uma conversa rápida, os soldados foram embora levando o canhão. A história virou piada, eles contavam e rolavam de rir!
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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