José Ronaldo dos Santos |  |
O meu parente Mané Bento, nascido na praia da Fortaleza [em Ubatuba, SP], conforme eu disse noutra ocasião, se pudesse ter estudado seria um advogado imbatível porque tinha as respostas na ponta da língua. “Com o Mané Bento é assim: bateu levou”, dizia a minha saudosa mãe. Ah! Ele também era muito ardiloso! Vovô Armiro, costumeiramente bronqueado com ele, dizia: “É mais sagaz do que trabalhador esse primo”. As respostas desse meu parente eram lógicas, inteligentes e imediatas. Mas isto não é muito comum até hoje! Afirmo isto porque, dias atrás, um jovem motorista desatento – ou fazendo pouco caso do alheio, não sei – estragou alguns blocos que se encontravam empilhados numa calçada, numa rua próxima de onde moro. Bateu com o caminhão numa manobra imprudente. O morador, proprietário dos blocos, saiu na hora reclamando, querendo resolver o prejuízo que era evidente. O motorista, bem jovem, se mostrou insensato e sem nenhuma educação de berço: “Eu não vou pagar nada. Quem mandou você deixar os blocos na calçada?”. Aí, na maior tranquilidade, o proprietário pegou o telefone e chamou a polícia. Fotografou tudo de diversos ângulos. Enquanto esperava disse: “Quer dizer que se o meu filho estivesse na calçada você poderia matar o menino que estava certo, com a razão? E saiba de uma coisa: você pra mim é moleque, entendeu?”. E continuou debulhando um rosário de argumentos que me fez recordar do meu finado parente, primo da vovó Eugênia. Eu fui andando sem esperar pra ver a solução do caso. Mas pensei: “Outro Mané Bento, com tudo na ponta da língua, corrigindo gavião que se acostumou em revirar lixo”.
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