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Transportes
27/06/2005 - 11h04
Quem tem medo de voar?
Shailon Ian
 

O conhecimento é uma das saídas para espantar o medo. Uma situação nova, seja ela qual for, requer conhecimento do assunto. Só assim é possível dominar o frio na barriga ou mesmo o receio em relação ao desconhecido. O medo que muitas pessoas têm de voar sem dúvida pode ser classificado como uma das situações desconhecidas que fazem muitos entrarem em pânico.

Quem freqüenta pontes-aéreas ou voa bastante acaba se acostumando com a sensação. Mas, para muitos, não significa que o medo tenha sido eliminado. Assim como um artista experiente sente certo desconforto antes de entrar em cena, o passageiro comum tem a mesma sensação antes do embarque, mas acaba por dominar o medo e segue em viagem.

Uma das melhores formas de superar o medo de voar é por meio do conhecimento, mesmo que superficial, sobre a aviação, projetos de aviões e helicópteros. Procurar descobrir por que, afinal de contas, esses meios de transportes são considerados um dos mais seguros já inventados pelo homem. Se entendermos como um trambolho de várias toneladas consegue sair do chão, cumprir sua missão e retornar de forma segura ao solo, já é um bom caminho.

O medo de voar nos remete à mitologia grega. O engenheiro Dedalus - preso no labirinto que ele mesmo havia projetado - resolve construir dois pares de asas para que, voando como um pássaro, consiga sair de sua prisão junto a seu filho Ícaro. Desta forma, os dois fogem do labirinto.

Encantado pela sensação de voar, Ícaro não dá ouvidos aos alertas do pai e acaba por se aproximar demais do sol. Como as penas das asas eram fixadas com cera, elas se soltam e o rapaz se torna a primeira vítima da aviação. Por essas incongruências que cercam o mundo, Ícaro - o que morreu - e não Dedalus, que projetou e sobreviveu ao vôo, foi o escolhido como símbolo da aviação.

É justamente neste ponto que a aviação revela ter algo bastante incomum em comparação a outras indústrias. É um setor que aprende com os próprios erros, e isso acaba sendo a grande chave para o sucesso e a segurança dos vôos de hoje. O exemplo de Ícaro nos desperta várias dúvidas, cujas respostas podem garantir a segurança dos vôos até hoje. O que aconteceu? Porque ele caiu? Como poderia ser evitada uma nova queda? Quais elementos tiveram participação no acidente?

Essa filosofia, de abrir questões sobre qualquer evento significativo que ocorra em uma operação, faz parte da rotina das pessoas de aviação. A busca contínua pela perfeição, pela segurança de vôo, a análise constante dos eventos de uma operação, sem busca de culpados mas mirando nas causas e suas possíveis conseqüências, usando vidas passadas para salvar vidas futuras. Estes são elementos que tornam a aviação fascinante e apaixonante.

Nesse exemplo de Ícaro, havia uma asa que funcionava bem, apesar de algumas limitações, como o perigo de se aproximar de uma fonte de calor. Essa imprudência, associada à velocidade, a qual as penas se soltariam da cera, de certa forma nos aponta que os braços, ponto de partida da asa, aliada às manobras específicas, acabam por definir os limites operacionais do aparelho, no caso a asa de cera. Em aviação isso é chamado envelope de vôo. Ícaro fatalmente extrapolou os procedimentos do "envelope" criado por seu pai.

Outras perguntas importantes: ele foi treinado corretamente pelo pai ou simplesmente recebeu um par de asas com a recomendação: voe o mais rápido e alto que conseguir? Ele foi adequadamente treinado? Quantas horas de vôo Ícaro possuía? Talvez Ícaro simplesmente não tenha sido adequadamente treinado. E treinamento, sobretudo na aviação, faz muita diferença.

Mais pontos a serem destacados: as penas estavam adequadamente presas? A cera era a mais indicada para a operação? Houve alguma inspeção nas asas antes da partida para o vôo? Aí está o papel da manutenção. Ao entrar em um avião, antes da decolagem, é possível ver um profissional, com macacão da companhia, andando em volta da aeronave. Isso é uma inspeção, procedimento que acontece antes de cada vôo. Ou seja, as lições passadas depois do fracasso de Ícaro são seguidas à risca.

Agora, segure seu frio na barriga, feche sua mesinha, coloque sua poltrona na posição vertical e aperte seu cinto. Bom vôo.


Nota do Editor: Shailon Ian é engenheiro aeronáutico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e Gerente de Manutenção e Suprimentos da BHS Helicópteros.

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