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SEÇÃO
Crônicas
30/11/2017 - 06h37
Minha vida passada
Henrique Fendrich
 

Vamos admitir que exista realmente esse negócio de vidas passadas. Tem como saber quem eu fui? Parece que tem, pelo menos são muitos testes prometendo isso pela Internet. Verdade que alguns são bastante controversos. Por exemplo, tem um teste que diz quem eu fui com base apenas na minha data de nascimento. Ora, não é preciso ser nenhum mestre de lógica para chegar à inusitada conclusão desse teste: todo mundo que nasceu no mesmo dia que eu foi a mesma pessoa na vida passada! A menos que haja alguma crença defendendo encarnações simultâneas (deve haver), o teste é um tremendo despropósito. Por isso, nem prestei muita atenção em quem esse teste dizia que eu era (uma espécie de domador chinês).

Bem, há alguns testes mais elaborados, cheios de perguntas sobre a sua vida. Em um deles, fiquei sabendo que, modéstia à parte, na última encarnação fui William Shakespeare. Admito que houve uma ligeira queda de qualidade na minha arte, se compararmos as peças que escrevi no século XVI com essas crônicas de agora, mas é ainda a mesma inclinação para as letras, argumento decisivo para a inclusão do bardo inglês na minha trajetória.

É curioso como tantas pessoas foram importantes em suas vidas passadas. Raramente se vê alguém que foi um servo da gleba na Idade Média. Talvez então eu não tenha sido Shakespeare, talvez eu tenha uma origem mais modesta. Resolvi procurar outro teste, um que me desse algumas características mais genéricas. Depois de responder a muitas perguntas bastante pertinentes, como qual era o tipo de diabruras que eu fazia aos três anos de idade, fui informado de que eu fui um guerreiro. Henrique Fendrich, um guerreiro. Bolas, Henrique Fendrich não mata nem aranha, tem piedade do bichinho, como é que pode ter sido guerreiro? A menos que a missão da minha vida atual seja justamente a de me livrar dos meus impulsos bélicos. Nesse caso, já consegui, me chamem de volta.

Diante dessas inconsistências, resolvi deixar pra lá os testes de Internet e comecei a fazer a minha própria análise. Do meu passado sei eu, afinal. De certo há sinais da vida de hoje que mostram como foi a vida de outrora. Por exemplo, a minha total falta de habilidade com as coisas práticas da vida significa, provavelmente, que sempre tinha gente para fazer as coisas por mim. Eu devia ter muitos vassalos. Minha família devia ser abastada, o que me deixava muito tempo livre. Foi aí que devo ter começado a bancar o intelectual. Aposto que eu tinha algumas ideias exóticas para a época. Mas era tímido demais para fazer alarde delas, talvez até fosse mulher e vivesse reprimida. Seguramente eu não vivia daquilo que pensava. E que fiquei solteiro é coisa que nem se precisa questionar.

Estou imaginando, é claro. Só tenho essa vida de hoje como parâmetro. Pode ser que seja por aí, mas pode ser que não seja nada disso, e pode ser que não exista nenhuma outra vida além dessa que estamos vivendo. Se assim for, todos os testes de Internet, evidentemente, terão se mostrado falsos, mas nem por isso a análise que fiz de mim mesmo perderá a sua importância. É sempre uma coisa boa quando temos nossa vida passada a limpo.

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