18/04/2024  22h25
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
11/12/2017 - 07h39
O penhasco, a cabana e a Previdência
Flavio Amary
 

Conta antiga lenda que certas comunidades adotavam métodos cruéis para resolver o problema dos idosos. Quando deixavam de ser produtivos em função da idade, homens e mulheres eram arremessados de altos penhascos. Afinal, o grupo não teria como sustentá-los. A comida, que era pouca, tinha de ser destinada àqueles que ajudavam na plantação. Encurtar a vida de quem envelhecia seria mais humano do que a morte lenta por inanição e desabrigo.

Outra lenda relata que, por tradição, quando o homem se tornava velho demais para trabalhar, era levado pelos filhos a uma cabana em lugar distante e lá abandonado para morrer, recebendo apenas uma manta para as noites frias. Mas esta estória tem um final diferente quando um pai decide dividir a manta com o filho que o levou. "Guarda esta outra parte para quando os teus filhos te trazerem cá abandonar", disse o pai. A partir de então, aquela absurda tradição foi proibida.

Quanto mais estudamos a preocupante situação da Previdência no Brasil, mais entendemos que, em pouco tempo, não haverá recursos suficientes para garantir aposentadorias.

É pura matemática. Se a população envelhece e a taxa de natalidade cai, em alguns anos teremos poucos trabalhadores ativos a sustentar uma imensidão de inativos.

Se a reforma da Previdência não ocorrer imediatamente, qual será o destino de nossos idosos? A cabana? O penhasco?

O Brasil, que já carrega a mácula de ter sido o último país a libertar os escravos, desejará também ser o último a evitar que milhões de cidadãos sejam lançados à miséria absoluta?

O Fórum Econômico Mundial de 2017 conclui que a longevidade impõe imensos desafios. As implicações são tão graves que o tema foi classificado como risco sistêmico de longo prazo.

Atualmente, a população global acima de 60 anos é de 1 bilhão de pessoas. Em 2030, somará 1,5 bilhão. Em 2050, será de 2,3 bilhões, equiparando-se ao número de crianças. E a expectativa de vida continuará aumentando, graças ao modo de vida e aos avanços no campo da medicina. As crianças de hoje viverão mais de 100 anos.

Além de ser a faixa etária que mais cresce no planeta, a idade média avançará muito até 2035. E os países que envelhecerão mais rápido são China, Índia, Brasil e Indonésia.

Até 2050, a população brasileira terá acréscimo de quase 34 milhões de pessoas. Nesse período, o número de idosos aumentará em aproximadamente 30 milhões.

Para que as próximas gerações possam sobreviver, com acesso à educação, saúde, moradia, emprego e aposentadoria, a maioria dos países já modificou seu regime previdenciário para acompanhar a maior longevidade.

Por aqui, corremos o risco de a Câmara dos Deputados sequer incluir o tema na pauta deste ano!

Embora não resolva todos os problemas, a reforma que precisa ser votada agora nada tem de impopular, pois focaliza apenas três aspectos essenciais: a equiparação entre trabalhadores dos setores público e privado, a gradual elevação do limite de idade (20 anos!) e o fim de privilégios como as mega-aposentadorias.

Quem fala que tais mudanças suprimem direitos não percebe que, na verdade, elas vêm para garantir direitos. O direito a uma renda para envelhecer com o mínimo de qualidade de vida, afastando qualquer possibilidade de se imaginar que a melhor saída seria a cabana ou o penhasco.


Nota do Editor: Flavio Amary é presidente do Secovi-SP e reitor da Universidade Secovi-SP.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.