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Crônicas
28/12/2017 - 06h51
Pedal até Piraquara
Henrique Fendrich
 

No dia em que havia de acabar o mundo, eu resolvi sair de casa para pedalar – não fosse o apocalipse me pegar desprevenido dentro de casa. Na rua eu poderia ver qualquer planeta que, por desventura, estivesse se aproximando do nosso pálido ponto azul. Claro, também não podia ficar olhando muito para o céu, sob pena de acabar atropelado, o que seria o fim do meu mundo. De vez em quando até dá uma vontade dessas, eu descendo a ladeira a uma velocidade altíssima, está tão bom, por que deveria frear, estragar esse momento, quero ver até onde isso vai. Mas eu freio, até hoje sempre freei. Tudo são transcendências, desejo de Deus. Resolvi sair de casa para pedalar.

Decidi ir até Piraquara, que é uma cidade vizinha. Falando assim, até parece que eu costumo cruzar cidades por aí. A verdade é que eu nunca havia ido até lá, não pedalando. Fui uma vez até um hospital psiquiátrico, um professor me levou lá, para ser internado ou escrever uma matéria, o que acontecesse primeiro. Outra vez eu fui até a igreja batista de lá assistir a um culto. Tinha um tempinho antes de começar o culto e eu entrei na igreja católica ao lado e peguei um pouco da missa. Transcendências.

O diabo é que para ir a Piraquara é só por rodovia mesmo, muito movimento, aquele descampado em linha reta e com o vento contra. Sou um homem frágil, minhas pernas são fracas, volta e meia sou ultrapassado por ciclistas de verdade, mas, contra o vento, a coisa se torna ainda mais dramática. O Google previa uma pedalada de 45 minutos até o centro da cidade, mas o Google nada sabe sobre o vento ou sobre as minhas pernas. Ia demorar.

Boa parte do trajeto, pelo menos, tem algo que se pode chamar de ciclovia, espécie de calçada na qual só se consegue subir ou descer saltando – pelo visto, não existem cadeirantes na beira da rodovia. Prossigo, sempre em frente, passo por baixo de uma BR e alcanço o portal que leva à dimensão de Piraquara. Cidade dos mananciais, é o que diz o portal. O epíteto me agrada, gosto muito dos mananciais, principalmente quando estou empapado de suor e me matando para conseguir subir a rua do portal.

Eis a cidade! A rua da cidade, isto é, a rua que resume a cidade, chama-se Getúlio Vargas, como convém a uma cidade do interior. Ali se concentram prédios públicos, supermercados, farmácias, lojas de roupas, de eletrodomésticos, igrejas. Vejo uma feirinha, pequena feirinha ao lado da prefeitura. Mais adiante tem um circo, é incrível como tem circos na região metropolitana de Curitiba. As calçadas se alargam, viram um calçadão e pode andar de bicicleta ali. Há uns bancos na frente da igreja católica, eu podia sentar ali, descansar. Mas, qual, se eu parar agora não me levanto mais. Levei mais de uma hora, viu, seu Google? O ruim é que também leva isso pra voltar.

Em verdade, se eu não retornar agora não chego em casa antes de anoitecer. Dou mais uma olhada para a Getúlio Vargas, movimentada, muita gente a pé também. As pessoas me parecem felizes, deve ser porque hoje ainda é sábado, deve ser porque o mundo não acabou. E, já é que é assim, nada me impede de voltar um outro dia.

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