14/09/2025  13h06
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
29/06/2005 - 14h05
Carta
Andréia Martins - Agência Carta Maior
 

Engraçado, coração, quando comecei a escrever-lhe, sequer imaginava quantas palavras seria obrigada a não dizer. Pensei em amenidades, em começar comentando o quanto sentia falta de um período de ócio criativo. Contive-me, pois sabia que iria zombar e questionar o que eu tinha aqui no escritório além de tempo para o tal ócio. Freei-me a tempo. Você sabe que não devemos contribuir para degradar ainda mais a imagem do funcionalismo público. Deve haver alguma instrução sobre isso no nosso estatuto. Poderia lhe causar até uma advertência ou coisa pior.

Sei, sei. Devo evitar chamá-lo por quaisquer dos apelidos carinhosos que usamos entre quatro paredes. Certas coisas só se dizem assim. E, pelo que vejo, não está longe de lançarem uma cartilha prescrevendo quais termos não devem ser usados na presença de outrem. Pois não são politicamente corretos. Ah, e como não somos politicamente corretos quando estamos a sós! Certas coisas que fazemos constrangeriam mocinhas que ainda fazem crochê. E, deuses, minha mãezinha, essa ainda nutre alguma esperança na possibilidade de salvação para a minha alma. Cuidei também de suprimir palavras que tornassem melosa a minha voz. Você sabe o quanto detesto parecer infantil. Nada de tatibitati entre nós. Sabe que eu não teria coragem de usar uma palavra tão sagrada como amor para definir esse sentimento tão pouco nobre que nutrimos. Ficariam ruborizados os poetas de virgens amadas ao descobrirem o que fazemos sob os lençóis. Deixo para esses o amor. Pelo menos ainda colocam flores nos túmulos. Nós profanamos, blasfemamos, cometemos sérios pecados o tempo todo. Não resta uma célula casta em todo o meu ser.

Mas nem por isso, negando a nomeação, deixarei de colocar aqui todas essas coisas misturadas, tumultuadas, que sinto. Sabe o quanto cuido para preservar a nossa imagem. Sei o quanto detestam gente como nós. E, além de tudo isso, ainda existem os impedimentos legais. Nem lei, nem céu, nem inferno ao nosso lado. Profundamente sós estamos nessa condição. E sentimento assim, ao qual nem o cúpido dedica uma flecha sequer, só pode em desgraça findar. Quero poupá-lo de destino pior que o limbo. Desse jeito, restou tão pouca coisa a dizer nessa despedida. Era para ser uma carta, era para ser um poema, era para ser algo belo. E só um pouquinho triste. Mas nem a um fim sublime tem direito o nosso delito. Digo que acabou, só isso.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.