Fico meio sem jeito de revelar o quanto sou reacionário, conservador, antiguado e matuto. Tem razão uma irmã que me chama de Nêgo do beição reaça. Ela tem razão sou mesmo mulato, tenho o beição e sou reaça em muita coisa. Alguns amigos dizem que sou um socialista da idade da pedra. Tem deles que não acredita ainda, depois de mais de 50 anos, que eu seja socialista. Que vou fazer? Sou mesmo atrasado e, pior, me orgulho disso. Vou agora revelar mais uma das minhas esquisitices de matuto reacionário.

Algo sempre me chama à a atenção: o quanto o país gasta com a justiça eleitoral, e esse frisson de votação eletrônica. Sou radicalmente contra essa votação eletrônica, desconfio dela. Por quê? Porque se você algo bom e seguro já tinha sido adotado nos EUA, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Alemanha... Esses países usam o sistema tradicional, além de nas eleições ainda incluírem uma espécie de plebiscito, referendum, decisões para o povo ratificar ou vetar. Detalhe: no mundo civilizado tão decantado pela mídia e pelos modernos não há essa preocupação de sair o resultado de imediato. Aqui sofisticaram tudo, tornaram até digital o voto, o título é pela impressão digital, a frescura é grande. Sim, acho isso um absurdo. Explico: enquanto há crianças dormindo em cima de pedaços de papelão debaixo de marquises e viadutos, os burocratas estão se preocupando em sofisticar o sistema eleitoral. Vou ser sincero, podem rir, mas acho que é muito mais perigoso o voto digital, eletrônico, do que o tradicional. Acho isso porque os hackers entram até nos computadores da Nasa, quanto mais no sistema eleitoral do nosso patropi. É mais fácil a fraude pelo sistema sofisticado. No tradicional, a gente via a apuração, participava dela, participei de várias, era muito mais confiável, e demora no resultado não atrapalhava em nada.

Tudo bem, sou um dinossauro, mas acho essa sofisticação do sistema eleitoral algo não só desnecessário e caro, mas ridículo. Porque não sofisticam o atendimento do SUS e da segurança? Por que não aplicam essa verba em defesa dos meninos de rua?

No mais, desconfio de algo que não se pode recorrer. Detesto a coisa maquinal. Fico pensando que há mutreta. Inté.