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Opinião
11/02/2018 - 06h57
Jerusalém capital de Israel: questão religiosa?
Luiz Sayão
 

A decisão americana de 6/12/2017, contida por 22 anos, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel trouxe turbulência internacional. O anúncio de Donald Trump causou comemorações e protestos em todo o mundo. Todavia, a paixão de muitos nem sempre é acompanhada de muita compreensão do conflito árabe-israelense.

Jerusalém e a Terra Prometida têm histórico complexo. Os judeus perderam a cidade na época romana (ano 70/135), que depois torna-se cidade cristã bizantina (325-638), até a conquista árabe muçulmana do século 7. O domínio árabe é sucedido pelos cruzados europeus (1099-1187). Mas, os cruzados são derrotados por Saladino (líder curdo) e deixam a Terra Santa em 1291. Até 1517 o domínio passou a ser dos mamelucos, dinastia islâmica de origem turca. A partir do século 16, o Império Otomano turco passa a ser senhor da região por 400 anos, até 1917, ocasião da derrota turca na I Guerra. As muralhas da cidade velha são desse período. A derrota turca trouxe o mandato britânico até 1947. Vale observar que nem judeus nem árabes governaram a Terra Santa e Jerusalém por muitos séculos.

Os interesses ingleses trouxeram decorrências difíceis para a região, principalmente para judeus e árabes. A presença judaica sempre foi constante na terra de seus ancestrais, ainda que como minoria. O movimento sionista, decorrente do antissemitismo europeu, e o surgimento dos fascismos, levaram milhares de judeus para Israel. Ao mesmo tempo, os árabes, depois de sofrer sob domínio turco (milhares imigraram para o Brasil), viam no novo momento a chance de governar a terra histórica e religiosamente importante para eles. Sonhos e promessas para os dois povos não se definiram como se podia desejar. O barril de pólvora se acendeu. O conflito se definiu.

Os judeus aceitaram a resolução da ONU, rejeitada pelos árabes. Israel lutou para existir. Foi uma luta difícil nas guerras de 1948, 1967 e 1973. A cada vitória judaica, os árabes locais, os palestinos, perdiam força, terras e fugiam como refugiados. Apesar da coalizão de países árabes contra Israel, o país saiu vitorioso e fortalecido em 1967 e 1973. Todavia, os judeus que viviam por séculos em países muçulmanos tiveram que fugir. Quase um milhão deles refugiou-se em Israel.

Jerusalém, pela proposta da ONU, deveria ser uma cidade internacional, livre para judeus, cristãos e muçulmanos. Todavia, a cidade foi ocupada pela Jordânia, de 1948-1967. Mas, Israel, ao derrotar a coalizão de países árabes, tomou a cidade dos jordanianos e a unificou, tornando-a sua capital há 50 anos. A cidade chegou a ser reconhecida por diversos países. Todavia, a conquista israelense não foi reconhecida. A disputa iria se tornar cada vez mais política e econômica.

Nas últimas décadas os fracassados planos de paz têm trazido desânimo e feito sofrer a população judaica e palestina. A situação tem piorado. A leitura superficial pode sugerir que a questão é apenas religiosa. É mais complexa. Pouca gente imagina, por exemplo, que há grupos judaicos ortodoxos contra o Estado de Israel. Há judeus sionistas radicais de perfil secular. Há muçulmanos muito religiosos, como os sufistas, que não se envolvem neste conflito. E existem muçulmanos nominais, radicais contra Israel.

A decisão adequada é em favor dos dois estados. Israel deve conter os seus radicais, religiosos ou seculares, e controlar os assentamentos indevidos na Cisjordânia. Por outro lado, o mundo árabe precisa reconhecer Israel. A ONU decidiu há 70 anos! Como protestar pela capital de um país que nem é reconhecido. Os movimentos terroristas têm que ser rechaçados e banidos. Não se constrói nada dessa maneira. A ofensiva jihadista é inaceitável.

As razões religiosas em favor da Jerusalém judaica, cristã e muçulmana podem ser levantadas, mas é preciso reconhecer que a base de todas é a tradição judaica. A cidade é a alma do judaísmo, e tem importância menor no cristianismo e no Islã. Os judeus não têm para ir; cristãos e muçulmanos têm dezenas de países onde estarão bem e à vontade.

Mas, é preciso sentir a grande perda palestina. A perda, em grande parte, é religiosa, mas não como se pode imaginar. Quem visitar a Jerusalém judaica sente liberdade e tolerância religiosa, mas quem visita um espaço islâmico não verá a mesma situação. Os valores que Israel têm hoje: democracia, liberdade, tolerância religiosa, diversidade, valor da vida, imprensa livre, entre outros, marcam uma maneira de conceber a fé e a sociedade com a qual posso me identificar. Mas, nas sociedades onde o islã jihadista se instala não há futuro. Enquanto Israel cresce em educação, ciência e liberdade, os palestinos e o mundo árabe distanciam-se de uma sociedade equilibrada e promissora. Os problemas dos palestinos são os mesmos de muitos outros países do Oriente Médio. O problema maior é interno! É triste! É gente amável e hospitaleira, de grande potencial, mas são liderados por quem não pode ajudá-los.

Fico surpreso com a turbulência internacional. Os EUA têm o direito de definir sua política externa, assim como a China, que em 2016, afirmou reconhecer Jerusalém como cidade palestina. Israel decide qual é sua capital. Os demais países podem avaliar as decisões e se posicionar. É difícil entender como a decisão americana pouco incomodou o Egito e a Arábia Saudita, mas foi uma afronta para a Suécia e muitos países europeus. Parece que as reações têm outros vetores em vista, como o desejo de primazia da Turquia, do Irã e da Rússia na região. O mercado muçulmano mundial, a importância do petróleo e o receio do terrorismo também influenciam a situação. Enquanto isso, gente comum, crianças e jovens promissores, judeus e palestinos, são prejudicados e assassinados. É preciso desesperadamente buscar paz de verdade. Devemos orar pela paz deste mundo, orar pela paz de Jerusalém.


Nota do Editor: Luiz Sayão é pastor, teólogo e hebraísta da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo-SP).

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