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Opinião
01/07/2005 - 19h00
Seis por meia dúzia
Ipojuca Pontes - MSM
 
"Os partidos revolucionários, em geral, são os piores" - Raymond Aron

Com sua conversa plena de vulgaridades e lógica de caixeiro-viajante, o "companheiro" Lula - alçado à Presidência da República na contra-mão da história pela imprevidência do mito salvacionista do "obreirismo" - está numa sinuca de bico. Suas chances de continuar na presidência até o fim do mandato são mínimas, embora o bom-mocismo da política nacional, sempre empenhado em iludir as massas, procure vender o contrário, ou seja: que é muito conveniente manter o ex-líder sindical, um tanto esperto, mas completamente despreparado, na condição de primeiro mandatário de um país problemático e de proporções continentais - num mundo, óbvio, que se transforma a cada instante.

(Alguém devia jogar a toalha para a salvação do presidente fanfarrão, exatamente como se faz nas lutas de boxe quando um lutador combalido recebe a combinação de saraivada de "jabs" mais ou menos estonteantes com o "upper-cut" demolidor. Lula está zonzo, grogue e divisa, vagamente, o clamor da platéia e a contagem final do juiz, mas quer dar a entender que está recuperado e insiste em permanecer no tablado. Não está. Pode até ser salvo pelo gongo da composição da nova divisão do poder, com o apoio do PMDB, regateador de "ministérios de porteiras fechadas" - mas é bom não confiar na manobra, justamente a que levou Collor de Mello, com o seu "gabinete de vestais", à lona definitiva).

Uma prova de que Lula não está regulando bem é a substituição de Zé Dirceu por Dilma Roussef (a ex-guerrilheira, integrante do grupo terrorista Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares, que atendia pelo codinome "Wanda") à frente da Casa Civil da Presidência da República. A julgar pelo perfil das duas "fortes" personalidades, mudar uma pela outra é como trocar seis por meia dúzia.

Como se sabe, José Dirceu de Oliveira e Silva, antigo líder estudantil radical, nutrido com a gororoba da mitologia revolucionária "marxista-leninista", entrou na clandestinidade ao ingressar na "ala Marighella" do PCB, com o codinome "Daniel", sendo preso e depois trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick, em seqüestro levado adiante por integrantes do MR-8, liderado, entre outros, pelo solidário companheiro e comentarista político da TV Globo, Franklin Martins (codinome "Lula").

Primeiro exilado no México e depois em Cuba, Zé Dirceu, para o dissabor de alguns "companheiros" invejosos, se fez amigo de Raul Castro, o segundo homem na hierarquia da ilha-cárcere e chefe das Forças Armadas cubanas. Em Havana, sempre calçando botas de cano longo e usando roupa de guerrilheiro, o ex-chefe da Casa Civil participou, durante meses, com o grupo "Primavera", de curso de guerrilha com o objetivo de estabelecer a luta armada no Brasil. Diz a lenda que Dirceu fez operação plástica (modificou olhos e nariz) e, em 1975, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello, se instalou na cidade de Cruzeiro do Oeste, Paraná, onde, em vez de cair na luta armada caiu nos braços de uma milionária da região (dona de fazenda e "boutique" - daí o apelido de "Pedro Caroço", personagem do xote de Genival Lacerda, o "Rei do Rojão"), com quem casou e em quem fez um filho.

Em 1979, com os militares já entoando a cantiga da "abertura lenta, gradual e irrestrita", Dirceu volta a Havana e, para fins "revolucionários", especializou-se em espionagem e contra-espionagem com os "técnicos" da implacável DGI cubana. Em seguida, depois de desfazer a operação plástica, retornou ao Brasil, se fez amigo e mentor do líder sindical Lula da Silva, empenhando-se, a partir daí, com renitência, na formação do PT. O resto da história não é preciso contar.

Por sua vez, a personalidade revolucionária que hoje toma conta da Casa Civil do governo Lula não muda o perfil do cargo. O seu currículo é o mesmo do companheiro "Daniel", digo Zé Dirceu: logo após 1964, ainda estudante, Dilma Roussef ingressa na Polop (Política Operária), organização clandestina que misturava a gororoba ideológica de Trotski com Rosa Luxemburgo; depois funda e ingressa na Colina (Comando de Libertação Nacional), grupo que visava à guerra revolucionária nos moldes criados pelos cubanos e chineses. Com o fracasso da Colina, ingressa no VAR-Palmares, também adepta da luta armada e, como integrante da "organização", participa da mais ousada ação terrorista da época (fontes: Globo online e Folha de S. Paulo): o roubo do cofre de Ana Capriglione, amante do ex-governador Ademar de Barros, que rendeu US$ 2,5 milhões, na aparência destinados à luta armada dos trotskistas - mas que, felizmente, não logrou futuro, pois grande parte do rico ervanário, sabe-se hoje, serviu apenas para a sobrevivência financeira dos militantes do grupo e, o mais curioso, para percorrer e logo se encaixar nas gavetas do comunismo internacional: de fato, US$ 1 milhão do assalto caiu nas malas diplomáticas do Embaixador da Argélia no Brasil, o sr. Hafif Keramane - e, mais tarde, coisa curiosa, ninguém sabe a razão ou por quais caminhos, entre US$ 130 mil e US$ 150 mil terminaram nas garras de um intelectual de esquerda francês, "Monsieur" Leutemant, o dono da precária Editora Marterout, em Paris.

Como todos sabem, o revolucionário é um ser que se julga acima do bem e do mal. De ordinário, age de acordo com um código especial de regras que despreza a noção de dever que acode o grosso da humanidade. Do alto do seu narcisismo, o revolucionário fere, rouba, mata, destrói e mente sem nenhum pudor ou impasse moral, imputando-se, como um Raskolnikv desvairado, todos os direitos que sua consciência de fanático determina. O tipo é universal, mas no Brasil, país de péssima educação política, ele assumiu a (im)postura de justiceiro e salvador da pátria, usando o poder conferido à "democracia burguesa" para aplainar, na base de golpes criminosos, os males sociais que arrolam a nação. Zé Dirceu e Dilma, por formação e temperamento, são irmãos siameses inflexíveis, formados na escola da ação revolucionária, no momento, dissimulada pelo anteparo político "reformista" do governo.

E enquanto no planalto Lula bate atabaque em companhia de mães-de-santo, numa postura farsesca, Dilma Roussef, a "companheira de armas" de Zé Dirceu, assume no aparelho da Casa Civil (Estado) as decisões ("políticas e técnicas") básicas para o deslanche dos projetos de "desenvolvimento nacional" - o que, na prática, não passa da manutenção do velho centralismo econômico, garantia de fracasso antecipado. A primeira delas, com olhos nas eleições do próximo ano, é ajudar Lula, a partir de julho, a enfiar R$ 4 bilhões nas obras de "transposição de águas do São Francisco", projeto tido por técnicos do Banco Mundial como "temerário e desaconselhável".

Mudou alguma coisa?


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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