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Opinião
19/03/2018 - 05h29
Todos os caminhos levam para algum lugar
Dartagnan da Silva Zanela
 

Na sociedade atual temos presente um verdadeiro rebanho de vacas sagradas. Intocáveis. Coisinhas que são tidas como se fossem bens apolíneos, cuja preciosidade supostamente seria auto evidente aos olhos de qualquer um.

Uma dessas vacas sacras, que integra esse modernoso rebanho, é a ideia de diversidade. Isso mesmo. A própria.

Ao chamar atenção para esse trem não estou, como alguns podem concluir de imediato e sem pestanejar, que advogo em favor duma atitude arbitrária com relação às culturas que se apresentam de modo diametralmente diferentes da nossa (como se o que, hoje, chamamos de nossa cultura valesse alguma coisa).

Na verdade, por combater a, como direi, ideologia da diversidade cultural, pessoalmente defendo uma atitude razoável frente à multiplicidade de manifestações culturais.

Explico-me. O critério que fundamenta toda essa onda, empolgante, de multiculturalismo que toma conta do sistema educacional, da grande mídia e tutti quanti, é um relativismo cultural rasteiro que trata tudo o que o ser humano faz e fez como sendo coisas do mesmo valor, importância e conteúdo.

Digo isso porque o relativismo, enquanto ferramenta para análise, de fato, é muitíssimo útil, porém, a conversa torna-se bem outra quando se adota isso como um instrumento para normatizar o valor que será atribuído para os bens cultuais que irão integrar o panorama de (de)formação de toda uma geração.

Quando o valor dos bens culturais é relativizado de modo absoluto acabamos, de cara, tendo os seguintes complicadores:

Primeiramente, por um vício cronocêntrico, acaba sendo dando uma ênfase maior aos bens culturais produzidos mais recentemente em detrimento dos mais antigos que, de cara, nos dá um cenário falseado onde se tem uma baita perda de profundidade.

Em segundo lugar, quando o valor de tudo passa a ser nivelado, perde-se de vista a possibilidade de se construir qualquer critério objetivo de avaliação da realidade e reduz-se a importância de tudo ao gosto subjetivo dos indivíduos ou aos padrões indicados de modo arbitrário por um ou outro grupinho tão engajado quanto barulhento.

Com a supressão da construção de critérios objetivos para avaliar o valor das produções culturais, o que temos não é a edificação dum reino de liberdade plena e total. Muito pelo contrário. Quando perdemos de vista a importância duma tradição (aliás, toda cultura é isso) e não mais procuramos o bom senso e a objetividade mínima para a formulação de nossos juízos, o que acabamos por construir, sem nos darmos conta, é o império da arbitrariedade de determinados padrões culturais que contam com o rumoroso apoio de grupos instrumentalizados, com o financiamento de grandes potentados e, obviamente, com as bênçãos das potestades estatais e da intelectualidade criticamente crítica.

Quando isso ocorre, a cultura, enquanto segunda pele do ser humano, acaba sendo reduzida a uma reles mercadoria que deve ser trocada conforme o modismo ditado pelos detentores dos meios de difusão de informações e, na ausência dum fundo universal e milenar de tradições culturais em que os indivíduos possam alimentar a sua alma - e, assim, contar com instrumentos para defender-se dessas arbitrariedades do momento - termina-se reduzindo todos os indivíduos, ao menos uma boa parte desses, a condição de autômatos que, por consumirem vanguardas e modismos, chancelados pela mídia e pelo sistema educacional, imaginam que são livres, emancipados e, é claro, críticos, quando, na verdade, encontram-se reduzidos a mais abjeta escravidão mental.

Enfim, todos os caminhos podem nos levar pra algum lugar quando sabemos para onde devemos ir. Agora, quando tudo passa a ser ditado pelo relativismo cultural, passamos a seguir o rumo do “tanto faz” e, em casos como esse todo e qualquer caminho acabará invariavelmente nos levando a lugar nenhum.

Chega. Findamos por aqui para degustar mais uma boa xícara de café. Recomendamos o mesmo pro cê.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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