Há uma música, não sei o nome do compositor, cantada pelo saudoso Orlando Silva (o Cantor das Multidões) que sempre me emociono logo que ouço a primeira parte: "Coqueiro velho / Abatido pelos anos / Ninguém sabe os desenganos / Dessas folhas descoradas, caídas, vencidas / Somente a palmeira coitada / Que a ventania malvada levou / Separando sem dó duas vidas". Mas não é de um coqueiro que quero falar, mas de uma velha árvore que tiveram que arrancar daqui de perto do prédio onde moro. Houve um consenso que era necessário executá-la ou abatê-la (tanto faz o termo para matar uma árvore) porque estava oca e as raízes apodrecidas, estava, portanto, sendo uma ameaça à vida das pessoas. Fizeram até "abaixo-assinado" e cartazes, e, então, vieram os "homes com as suas ferramentas e um caminhão grande e, poke!, arrancaram a velha árvore. Parece que fizeram até festa. Que sina triste, de amiga, irmã, protetora, beleza..., passou a ser inimiga. Como a vida é triste... Vi essa árvore nos seus bons tempos: linda, florida, soltando folhas na calçada, recendendo à poesia, protegendo as pessoas do calor, do sol e da chuva, dando guaridas aos enamorados. De manhãzinha e à tardinha largando folhas no chão, que a gente pisava e lembrava a música de Nelson Cavaquinho que Beth Carvalho canta excepcionalmente: "Quando eu piso em folhas secas, caídas de uma mangueira...". Não era mangueira, mas eu fantasiava que era... Não sei realmente que árvore era. Diferente do nosso grande Joel Iratiense, que é expert em árvores, eu sou mobral, mas amo as árvores. Sem distinção, todas as árvores. Encaro as árvores como seres humanos. Como as respeito. Quando soube que iam arrancar a árvore, que chegara a hora da execução, fechei a janela do quarto de onde contemplei tantas vezes aquela árvore. E... chorei, chorei muito. Chorei e rezei como se chora e se reza quando se perde um parente ou um amigo. Aproveito para transcrever outro verso da música "Coqueiro Velho": "Você foi a minha palmeira / De folhas bem verdes / Um verde esperança / De um sonho doirado de criança / Tal qual o coqueiro abatido / Magoado eu tenho o meu coração / Que no samba procura a bonança / Da tempestuosa desilusão". Ainda, só pra lembrar, cito um verso de uma música que adoro, de Raul Sampaio, que foi imortalizada pelo Rei Roberto Carlos: "Recordo a casa onde eu morava / o muro alto, o laranjal / Meu flamboaiã na primavera / Que bonito que ele era / Dando sombra no quintal". Ah, as árvores. São seres humanos, gente como a gente. Merecem nosso respeito, reverência e amor. Inté.
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