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Opinião
27/03/2018 - 05h42
Entrar na universidade
Daniel Medeiros
 
Uma reflexão sobre o processo de acesso ao ensino superior

Nos países de clima frio, em muitas residências, as pessoas entram e deixam suas pesadas roupas em um estreito corredor que dá acesso à sala. É o vestíbulo. Desde sempre é assim. Com o tempo, essa palavra tornou-se também o sinônimo de um processo de seleção e também um ritual de passagem entre o mundo da rua e o mundo do conhecimento acadêmico, a Universidade. Estamos falando do vestibular.

É, de fato, uma interessante apropriação do termo. Afinal, para os jovens, o ingresso na vida adulta é sempre uma mudança importante e os rituais dessa passagem servem para marcar a memória desse acontecimento. Principalmente porque não é fácil. O caminho é estreito.

Vale também lembrar que, no início das universidades italianas, nos séculos XI -XII, os jovens que eram aceitos em suas salas de aula tinham os cabelos raspados, por uma questão de higiene. Aí vemos como há costumes que continuam a fazer sentido. E outros não.

E então, temos hoje os vestibulares. Para alguns cursos, como a Medicina, por exemplo, a concorrência é altíssima e o desempenho nas provas deve beirar a perfeição. E, para isso, há todo um preparo. Que pode levar anos. O sonho de ingressar em uma universidade de qualidade é algo que muitos pais alimentam para seus filhos desde os primeiros anos de escolarização. E tentam prepará-los desde muito jovens para esse momento. A lógica é simples; poucas vagas e muita procura leva à necessidade da seleção. E seleção exige preparo.

Aliás, temos na palavra “seleção" outra apropriação interessante. País do futebol que somos, sabemos que a “Seleção" é só para os melhores. E quantos disputam as poucas vagas que um time oferece para jogar uma Copa do Mundo? E vem o outro lado: estresse, angústia, sofrimento e, muitas e muitas vezes, a desilusão. O que leva muita gente a discutir se isso é realmente necessário. Por que provas tão longas e extenuantes, em tempos tão exíguos, com tão poucas vagas?

Uma reflexão importante: selecionar é necessário. Não seria se o número de vagas fosse igual ao de pretendentes. Imagine um time de futebol com cinco mil jogadores! A pergunta, então, é: como fazer uma boa seleção? Há muitas faces para essa questão. Para muitos, as provas são boas porque condicionam, em um efeito cascata, o ensino Médio e o Fundamental.

Por outro lado, muitos educadores criticam essa vinculação, afirmando que a Educação das crianças e jovens não pode estar voltada para o vestibular, mas para a preparação para a vida. Ao longo dos anos, porém, a inclusão da Redação, depois as provas discursivas, os temas vinculados à cidadania, provocaram mudanças nos conteúdos, na formação dos professores e no jeito de se relacionarem com os estudantes que os aproximou bastante das importantes questões... da vida. Enfim, uma polêmica.

Penso que os vestibulares deveriam ser mais ousados. E, para isso, os professores universitários deveriam voltar seus olhos para o Ensino Médio, conhecer melhor esses jovens, e projetar avaliações para mobilizá-los em relação aos valores que a Universidade quer ver expressos neles. Provas que exijam conhecimentos sociais, artísticos, históricos, por exemplo. Mas também o grau de contato com os avanços das ciências. E tudo isso permeado pela língua, por meio da qual esses outros conhecimentos se expressam. Ler e escrever. Compreender e interpretar. Argumentar e propor, com fundamentos e criatividade. Quem não gostaria de um jovem com essas qualidades? E então por que não selecioná-los com base nesses parâmetros?

Mas há outras experiências que as Universidades poderiam estimular. Envolvimento comunitário, trabalho voluntário, propostas sociais locais, participação nas discussões do planejamento da cidade, entrevistas individuais e em grupo. Ou seja, selecionar um jovem que pensa e que age.

Entrar na Universidade não é um fim. É uma escolha. As escolas devem, realmente, preparar para a vida. Mas para os que querem colocar nas suas vidas essa escolha, os vestibulares devem estar à altura desse ritual de passagem. Como na época que sonhávamos trocar os shorts pelas calças compridas, a lancheira pelo dinheiro para comprar na cantina, a carona com a mãe acenando na porta pela passagem do ônibus. Como sentar na mesa dos adultos. Quem já viveu tudo isso, entenderá.


Nota do Editor: Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História do Brasil no Curso Positivo.

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