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Opinião
08/04/2018 - 06h55
A terceira margem do rio
Elton Duarte Batalha
 

Em um contexto político polarizado, no qual teorias são desvirtuadas para que sirvam a propósitos inconfessáveis, o Brasil necessita encontrar uma saída que represente um ponto comum que permita ao país, apesar do dissenso típico da democracia, caminhar para a frente. Quando não há sentido em nenhum dos dois lados, talvez a saída esteja na busca pela terceira margem do rio, título de conto notável de Guimarães Rosa.

A despeito de todas as elucubrações filosóficas que a obra literária permite, resta-nos analisar o cenário eleitoral de modo pragmático. Bolsonaro e Lula, que apresentam os números mais alvissareiros em pesquisas eleitorais, são nomes que representam, cada um a seu modo, opções políticas que não apontam para a convergência dos diversos campos da sociedade. São polos opostos que se nutrem, em parte, da repulsa que o adversário causa em parcela da população.

“Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos”. Assim como no conto, visões de mundo que talvez fossem importantes há cerca de cinquenta anos, em um contexto bipolarizado forjado pela Guerra Fria, hoje não mais encontram justificativa. Infelizmente, a condução do país dá sinais, muitas vezes, que parece não ter percebido as alterações ocasionadas pela globalização e pela democracia nos âmbitos econômico e político, respectivamente. É perceptível no país a existência de um certo capitalismo de Estado e de instituições apenas formalmente democráticas.

“Eu fiquei aqui, de resto. (...) Eu permaneci, com as bagagens da vida. (...) Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa?”. O momento da eleição aproxima-se e, tal qual a personagem de Guimarães Rosa, a população deve refletir cautelosamente acerca das escolhas que deverão ser feitas em outubro. É fundamental decidir se vale a pena continuar a carregar “as bagagens da vida” e optar pelo aprofundamento da divisão social que tanto tem afligido o país nos últimos anos, sendo utilizado, inclusive, como instrumento político por certo segmento que aposta no discurso sectário que vislumbra o país conforme a paupérrima dicotomia composta por ‘nós’ e ‘eles’. A inexistência de uma mínima plataforma comum de perspectiva social, respeitadas as visões diferentes em essência, é bastante deletéria para a estruturação do ambiente democrático. Neste, a existência de diversas cosmovisões é necessária como meio de construção de uma comunidade com razoável harmonia. Busca-se a unidade como fim, jamais como meio, algo típico de sociedades totalitárias.

A realidade, tal qual a personagem do conto, parece dizer: “cê vai, ocê fique, você nunca volte!”. A negligência em relação ao momento crucial vivenciado pelo país pode levar à futura sensação, materializada nas palavras de outra figura da mesma obra: “sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro”. Querendo ou não, todos estão “nessa água, que não para, de longas beiras: (...) rio abaixo, rio a fora, rio adentro – o rio”. É chegada a hora de a sociedade brasileira decidir se deseja construir a canoa e remar em busca da terceira margem do rio.


Nota do Editor: Elton Duarte Batalha é advogado, doutor em Direito pela USP e professor de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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