Quem é da geração dos anos 70, pelo menos alguma vez na vida, assistiu a um filme de bang bang em que entre os muitos enredos estava o do roubo de gado ou de cargas por quadrilhas organizadas no processo de expansão do Oeste norte-americano. O Rio de Janeiro do século XXI parece repetir, em tons de tragédia, a história dos tempos do faroeste e os casos assaltos a cargas, principalmente, na região da Pavuna, vêm se repetindo diariamente. Há cinco anos, este tipo de crime não chegava a 500 casos no Rio de Janeiro. Essa situação mostra, mais uma vez, que a incúria das autoridades responsáveis pela Segurança Pública nos últimos anos – que arrostavam controle sobre a cidade e seus índices criminais – eram nada mais do que uma bazofia para encobrir a falta de preparo e investimentos sustentáveis, no setor de Segurança Pública. O crime atua na lógica do custo benefício. E em sua análise de mercado vislumbra o lucrativo negócio do roubo de cargas, em um cenário de absoluta insegurança, crise econômica e desemprego deteriorando o poder de compras das classes menos abastadas e facilidade relativa em cometimento desse tipo de delito. Criando uma rede de distribuição que trabalha na maior parte do tempo sob demanda, as gangues ligadas à venda de drogas abrem essa nova frente de negócios aproveitando-se da incapacidade do Estado em prover segurança. Diante disso, o Brasil fica ao lado de países onde o Estado já desapareceu há muito tempo, como o Iraque e a Somália. Triste companhia. O corolário é aumento do valor dos seguros, perda de confiança entre os setores econômicos envolvidos no transporte de carga, vidas inocentes muitas vezes violentadas emocionalmente e perdidas em alguns casos. Enfim, estabelece-se um quadro de verdadeira anomia social. O Estado pode e tem elementos para reverter essa situação. Os roubos têm localização geográfica definida e periodicidade. Falta vontade política, ações de mapeamento e inteligência e uso de intervenções táticas nos morros à volta da região criminosa, conhecida entre os locais como rua do “roubadinho”, para que se obtenha sucesso e se refreie essa escalada criminosa. Cabe aos agentes econômicos sabedores da virtual falência do Estado do Rio de Janeiro se mobilizarem, a suas entidades de classe junto ao Estado e ao Exército para proverem os meios e recursos necessários a ações perenes que garantam a volta da segurança e a sua manutenção. E cabe ao estado para de se lamentar e se posicionar, apesar da crise econômica que se abate sobre ele, em uma proposta ativa de uma “parceria público-privada” algo na linha das bem-sucedidas operações desenvolvidas pela Fecomércio. Ações que ajudaram a reduzir consideravelmente os índices criminais nos seus locais de atuação e que ganharam a simpatia da população. Obviamente que são situações bem distintas, mas soluções de curto prazo existem. Basta querer desenvolvê-las. Desse modo, o faroeste no Rio de janeiro fica restrito às telas do cinema e as reprises da tevê. Nota do Editor: Newton de Oliveira é professor de Direito da Faculdade Mackenzie Rio e ex-subscretário Geral de Segurança.
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