"A verdade é filha do tempo, não da autoridade." (Francis Bacon)
A disputa por adeptos entre socialistas e liberais é bastante injusta. Os primeiros levam vantagem em vários aspectos. Felizmente, os liberais contam com um fator chave, que veremos ao final, permitindo assim a manutenção da chama da esperança. Vamos passar por algumas vantagens do discurso socialista, de forma sucinta. Creio que uma das características que o socialista tira proveito é o apelo emocional, tão freqüente em sua retórica. Enquanto os liberais apelam à razão humana, ao uso da lógica, os socialistas simplesmente "falam" ao coração, conquistando seguidores com esta tática. Dispensam o conhecimento histórico ou técnico de economia e natureza humana, pregando de forma dogmática fins nobres, mas esquivando-se do debate quanto aos meios. Buscam monopolizar as virtudes, desqualificando os demais com adjetivos e rótulos falsos. Quem não adere ao uníssono romântico é um insensível e egoísta. Fica complicado enfrentar uma estratégia tão pérfida, já que o liberal defende justamente o oposto disso tudo, exigindo estudo, reflexão e esforço do indivíduo. Além disso, o socialista, com sua visão coletivista, tira do indivíduo a sua responsabilidade, criando bodes expiatórios para culpar por seus problemas. A "sociedade" adquire vida própria, como um ser vivo. O Estado paternalista irá cuidar de todos! E a venda de sonhos utópicos facilita a conquista dos mais desesperados. O socialista costuma incitar a inveja também, dividindo o mundo em uma suposta luta de classes, e culpando o rico pela miséria do pobre. Neste aspecto, o socialismo é o verdadeiro ópio do povo. Um dos fatores que mais beneficia os socialistas na disputa por seguidores é justamente seu caráter de grupo, de bando. Os socialistas costumam ser muito organizados, enquanto os liberais, por definição, são mais individualistas e independentes. O liberal foge da psicologia de massas, tentando sempre manter um pensamento independente, calcado nos fatos. E acredita no esforço individual e liberdade de escolha, não na máxima socialista de igualdade de resultados, independente da meritocracia. O socialista defende uma vida típica de insetos gregários, enquanto o liberal vê o homem como um fim em si, não um meio para um "bem geral". Desta forma, a organização característica dos socialistas permite uma força maior na luta por adeptos. Outro ponto que pesa muito contra os liberais é que seu projeto é o anti-poder, visando a um Estado mínimo, interferindo pouco na vida dos cidadãos. Ora, para isso ser possível, era necessário que os liberais chegassem ao poder. Mas o jogo sujo e demagógico pelo poder afasta os liberais da disputa. Resta a luta no campo das idéias, para que a pressão popular consiga moldar o Estado com tais características de poder menor e mais descentralizado. Infelizmente, exigir o esclarecimento das massas talvez seja pedir demais. E para piorar, muitos formadores de opinião possuem interesse em manter a concentração de poder estatal, pois beneficiam-se disso. Empresários "amigos do rei" conquistam privilégios às custas dos consumidores, intelectuais e artistas conseguem financiamento do governo e funcionários públicos, obviamente, pregam mais Estado. No todo, pode até ser que as pessoas entendam que essa briga desenfreada por privilégios gera resultado negativo, pois as contas ficam caras demais. Mas quem irá abdicar do seu pedaço, sabendo que o restante irá permanecer mamando nas tetas do governo? Como diz o ditado, "se a farinha é pouca, meu pirão primeiro". O único meio de tentar reagir a isto é defendendo uma medida generalizada e isonômica. A liberdade de expressão é um bom exemplo. Se o debate fosse sobre temas específicos, poderia ser que alguns ficassem contrários ao direito de um comunista, ou nazista expor suas idéias. Mas quando a opção é de um pacote completo, tratando da liberdade geral de expressão, a maioria acaba aceitando isso como benéfico, mesmo que tenha que aceitar opiniões divergentes. O mesmo teria que ocorrer na influência econômica do governo. Deveria ser proposto um pacote completo de não-interferência estatal, acabando com subsídios, tarifas protecionistas, reservas de mercado etc. Pois quando o debate é sobre um caso específico, os mais interessados serão sempre os potenciais perdedores do privilégio, e estes lutarão com afinco para mantê-lo. Como os custos da mamata são pulverizados entre todo o resto, dificilmente o privilégio será extinto. Os lobistas irão garantir que isso não ocorra, e os consumidores e pagadores de impostos, penalizados, mal irão notar. Posto que a luta é tão desigual, dificultando bastante a vida dos liberais, por que então ser liberal? Aqui voltamos ao ponto inicial, de que há uma grande vantagem para os liberais. Esta vantagem está no fato de que a verdade e a razão estão do lado dos liberais. A consciência fica limpa quando um liberal se lembra disso. E ainda, a razão, cedo ou tarde, vai prevalecendo. As tentativas de abafá-la são constantes, mas é impossível enganar todos o tempo todo. O tempo acaba jogando à favor da verdade, e os fracassos socialistas vão ficando mais aparentes. A luta é desigual. Mas ela pode ser vencida pelos liberais. E um dia, será! Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor dos livros "Prisioneiros da Liberdade" e "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", ambos pela editora Soler.
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