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Crônicas
05/07/2005 - 12h12
O juiz e a imprensa
Seu Pedro
 

Não vejo culpa no juiz, homem de estrutura física idêntica a todos demais viventes, em ter vontade de ir ao banheiro, por exemplo, na hora em que o jornalista chega para o entrevistar. Assim é necessário que o repórter se mantenha discreto, responsável, até que o magistrado esteja pronto para atendê-lo. Não foi exatamente o caso, mas se fosse melhor ainda, pois eu teria remexido um pouco mais os exemplares do Diário do Poder Judiciário da Bahia, empilhados em uma mesa do gabinete do juiz, procurando algo mais a ler além daquelas coisas oficiais, que geram boas notícias, quando o faro do jornalista se aguça. Mas o gostoso de ler são os artigos. Um dia li um sobre a vaquinha de madeira que pagou o honorário do advogado, homem que depois de se transformou em um juiz (por concurso, é lógico!).

Um dia entra no escritório do advogado um homem simples e humilde ao extremo, solicitando este que movesse uma lide, por questões de divisas de terra. Isso aconteceu no interior da Bahia, em uma região onde as terras são tão castigadas pela seca que talvez não valham uma demanda. Mas advogado está ali para atender o cliente, e deu-lhe o valor que cobraria pelo honorário. O homem parou de dar baforadas em seu cigarro de palha, tirou seu chapéu de abas desbotas e esfoladas pelo uso, coçou a cabeça, e disse que não poderia pagar tal importância já que suas terras estavam improdutivas. Mas, luziu-lhe a idéia de oferecer uma vaquinha em pagamento.

O advogado Argemiro de Azevedo - hoje juiz em Santo Amaro da Purificação -, segundo ele mesmo narrou em um artigo, publicado na imprensa, topou a parada. Provocou a justiça e ganhou a causa. Na hora de receber os honorários, já tendo pensado na caminhonete para buscar o animal, chega ao escritório o seu cliente, com um embrulho em papel comum, e diz: "Aqui está o combinado, e estou muito agradecido ao senhor". O advogado abriu, olhou, meditou, e deu um sorriso. No embrulho estava uma vaquinha esculpida em madeira, que até hoje orna o gabinete do juiz!

Mas estava me referindo a um fato da última semana, quando no gabinete do juiz Roberto Paulo Prohmann Wolff, que apesar desse nome "alemãozado", exerce sua magistratura na cidade de Palmas de Monte Alto, Sertão Sudoeste da Bahia, ali deparei com um exemplar do Diário do Poder Judiciário com um artigo de opinião, "O juiz e a imprensa" - título que plagiei. Não me fez rir como causo da vaquinha, mas colocou-me a ponderar principalmente quando li: "Na sociedade moderna, cobrando-se uma maior transparência do Poder Judiciário, exige-se que o juiz não permaneça completamente isolado. Porém não se espera, muito menos se deseja, que o magistrado seja uma presença constante na mídia, um verdadeiro pop star, um adepto dos holofotes".

No dia 14 de junho, e fui o único do interior da Bahia, compareci a Salvador para o "1º Seminário - Ministério Público (Federal) para Jornalistas", que acontecia justamente pelo ponto, digno de registro, promotores/imprensa e a linguagem utilizada, neste caso pela imprensa, pois se pecam juízes, promotores e advogados, pelo uso excessivo do "juridiquês", também pecam jornalistas pelo "imediatês". Não nos valemos da arma da pesquisa, da busca para maior acerto na comunicação, e não entendem alguns o que são "provocações a justiça", e aí por parco conhecimento colocam nas páginas, até de grandes jornais, os efeitos de leite de magnésia, e acabam realmente provocando direitos de resposta.

Podem rir, pois eu escrevo e falo não só para que pessoas reflitam, mas também para que riam. Afinal, outro dia, no caminho da confiança imprensa-juiz e juiz-imprensa, eu mero repórter de interior e um magistrado que pugno por sua capacidade e seriedade, ríamos, as escâncaras, de um fato cômico que se apresentou durante a entrevista. E daí? Juiz tem que ser carrancudo? No seminário, do Ministério Público Federal, já cansado de ouvir os reclamos dos colegas sobre a tal "caixinha preta" do judiciário, e arestas sobre a "lei da mordaça", resolvi falar e fazer rir alguns, os de bom humor!

"Aos homens sérios e bons propósitos não fazemos calar. O máximo que podemos fazer é que eles digam com outras palavras", eu disse e arrematei: "A prova disto está no cinto de castidade. Foi só inventá-lo, o homem descobriu novas fontes do amor". É assim. O mundo se ajusta às circunstâncias do tempo. Tanto tememos, por exemplo, o fim da água potável, que não nos aguçamos para que ela não vai acabar, apenas teremos que limpá-la, e para isto, entre outras fontes, a energia nuclear contribuirá. Podem até questionar que a fonte nuclear pereça em quinhentos anos. Mas, se pelo mesmo período, com a lição aprendida, o homem reduzir à zero a poluição do meio-ambiente, a água por si só já terá se purificado e as fontes novamente jorrarão como no Paraíso de Adão e Eva.

Ás vezes se tem muita preocupação com pouco, e pouca com muito que deveríamos nos preocupar. Caixinha Preta? Ela é preta porque esta foi à cor que convencionamos dar, mas o que não impede ser uma caixinha colorida. Igual daquelas que tínhamos na infância, que dela saía um "assustador" palhaço de papel crepom. Só existem essas caixinhas (as pretas) em nossa imaginação: "É claro, óbvio e ululante, que ao juiz é vedado, quer pela imprensa ou não, adiantar o seu julgamento, dizer como irá decidir tal, e qual processo, criticar gratuitamente esta ou aquela decisão. Todavia isso não significa necessariamente que o juiz esteja impedido de, por exemplo, prestar algum esclarecimento acerca de processo que lhe esteja submetido a julgamento", e trecho de texto, do artigo do bacharel Rommel Moreira Conrado, juiz da 2ª Vara Cível, da Comarca de Boa Vista - Roraima, deve nos servir, jornalistas, para que se pense que temos o dever de insistir junto à fonte, pela notícia, mas não temos o direito de exigir da fonte jorrar de informações!


Nota do Editor: Seu Pedro, 58, é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Sertão da Bahia.

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