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Opinião
06/07/2005 - 16h19
(In)justiças brasucas
Dartagnan da Silva Zanela
 

Que país é esse? Digo, que m... de país é esse? É o país que nós merecemos enquanto cidadãos? Não. É o país que nós precisamos enquanto indivíduos que fazem parte do processo de formação histórico da sociedade brasileira e, desta maneira, nos entregamos com muita facilidade a sentimentos de revolta, fruto de nossa lascívia voluntária maquiada com pseudo-sentimentos de justiça e coisas do gênero.

Como assim? Você já ouviu falar da senhora Maria Aparecida de Matos? Não? Bem, essa é uma empregada doméstica de 24 anos, mãe de dois filhos pequenos e que acaba de deixar a prisão, onde passou um ano e sete dias. Ela foi presa em flagrante quando tentava furtar um xampu e um condicionador numa farmácia, em São Paulo. Os produtos custavam 24 reais.

Maria é analfabeta, só sabe desenhar o nome. Nunca teve dinheiro para pagar um advogado. Depois de presa, foi atendida pela assistência jurídica gratuita e pela advogada Sônia Regina Arrojo e Drigo, que se revoltou com o absurdo da situação. O primeiro recurso chegou à 2ª Vara Criminal. Solicitava que Maria aguardasse o julgamento em liberdade. A Justiça achou que ela tinha de ficar presa.

Essas informações havia eu recebido através de um e-mail do senhor João Germano, que, por sua deixa, nos apresenta algumas comparações com outros casos nada similares quanto ao delito e muito menos com os procedimentos legais. Germano nos lembra que, aproximadamente, na mesma época, "Jader Barbalho foi acusado de chefiar a máfia da Sudam, que patrocinou roubalheiras de 1,7 bilhão de reais. Foi preso em fevereiro de 2002. Ficou onze horas atrás das grades! Está livre desde então. Hoje é deputado federal pelo Pará".

E Germano não parou aí com suas ponderações. Lembra também que, para vergonha geral da nação, na mesma época em que a analfabeta Maria estava a ver o sol nascer quadrado e gradeado, o ex-governador de Roraima, Neudo Campos, "havia sido pego no caso dos gafanhotos, onde foi desviado aproximadamente 300 milhões de reais da folha salarial do estado. Campos foi preso, mas ficou apenas dez dias no xilindró. Foi solto em 6 de dezembro de 2003, está livre, leve e solto".

Mais recentemente temos o caso do senhor Marinho, aquele que foi filmado embolsando uma propinazinha, míseros R$ 3.000 (quantia que dava para comprar 125 vasilhames de xampu e condicionador iguais aos que Maria tentou furtar) e por isso, acabou sendo indiciado, mas, obviamente, está livre da Silva e, logo após o seu depoimento foi fazer um lanche no McDonald’s.

Infelizmente, esse é o nosso país, muito bem descrito pelo amigo curitibano João Germano, que demonstra de maneira exemplar a concretude das palavras ditas por Aristóteles que, em sua obra A POLÍTICA - livro I, que ensina-nos, que o ser humano: "... quando apartado da lei e da justiça, é o pior de todos (os animais); [...] É por isso que, se o ser humano não for excelente, será o mais perverso e selvagem de todos os animais, o mais repleto de luxuria e gula. Mas a justiça é o vínculo dos homens, nas polis; porque a administração da justiça, que é a determinação daquilo que é justo, é o princípio de ordem numa sociedade política".

Ora, o princípio que norteia o agir de nossa sociedade, com toda certeza, não é o da lei ou o da justiça, apesar de, formalmente, termos ela como base, pois o que determina a vida em sociedade não são, a princípio, as leis escritas, mas sim, as normas não escritas, partilhadas por todos nós, enquanto membros de um determinado agrupamento humano.

Deste modo, é fácil constatar os princípios que guiam os atos de nossa sociedade. São os dois pesos e as duas medidas do "jeitinho brasileiro".

Nada que há de podre a pairar nas instâncias superiores de nossa sociedade não deixa de ter a sua base de sustentação na esfera da sociedade civil, em nossos atos. Não? Então vão me dizer que nunca disseram ou mesmo ouviram pessoas afirmarem que, se estivessem no lugar de algum dos membros da corja que nos governa não fariam a mesma coisa?

Vocês nunca viram um fulano negociar o seu voto por um emprego ou cargo (trabalho não) em uma repartição pública e depois, passou a criticar os que fizeram o mesmo, chamando-os de corruptos? Você nunca, quando estudante, mandou fazer um trabalho e depois, quando professor, passou a criticar os seus alunos que fazem uso da mesmíssima prática? Bem, para nos darmos bem sempre acabamos por encontrar um jeitinho para justificarmos nosso ato. Agora, quando é outrem, nana nina não! Sentamos a ripa sem dó ou piedade.

Por isso digo: nos envergonhemos em usarmos casos como esse de dona Maria Aparecida para manifestarmos pendores justiceiros para assim acobertarmos nossa velada conivência para com o estado de penúria que se encontra a civitas brasilis. Nos envergonhemos de chamar algum membro da corja de ladrão, porque somos acovardados e nada fazemos apesar de existirem mecanismos legais para agirmos.

Todos nós envergonhemo-nos de acobertar esse nosso brasileiro jeitinho medíocre de ser, pois não há nenhum entre nós que não tenha dolo no coração, com exceção de nosso Presidente, que segundo ele, é o homem possuidor de moral ilibada e não possuidor de nenhum pecado.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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