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Crônicas
06/05/2018 - 07h06
Belo gesto ou suborno?
Dartagnan Ferraz
 

Acho que uma das coisas mais difíceis para o ser humano é julgar as ações dos seus semelhantes, Não, não estou me referindo aos semideuses em compotas da justiça, não (salvo as exceções de praxe), vou me referir as pessoas comuns, àquelas que não fazem parte do Olimpo de marré-marré, de todos nós enquanto cidadãos, contribuintes, pobes mortais.

Vejam bem, hermanas e hermanos, há um caso de que fui testemunha ocular que nunca me esqueci, e até hoje não consigo chegar a um veredito (para usar um termo dos semideuses). Faz mais de 40 anos o fato.

Vamos a ele. Um dia eu saí de casa bem cedo, antes das sete da manhã, para trabalhar no banco. Só ia a pé, nunca tive carro, ia e vinha no pedal, era a uma distância considerável, uns dois quilômetros, mas me fazia bem, até para a asma. Pelo caminho conversava com as pessoas, olhava para as árvores, respirava... Certo dia, nas imediações da Rodoviária, vi três garotos no maior rebuliço, alegres, rindo, satisfeitos, haviam aprisionado numa arapuca (uma gaiolinha de bambu) um galo de campina. Fiquei com pena do passarinho, detesto passarinho engaiolado, por causa disso já arrumei até intriga. Falei pros meninos soltarem o bichinho, eles nem ligaram e eu conhecia até os pais deles. Um carregador de fretes que se dava muito comigo foi logo dando razão aos garotos: - "Que é isso, chefia? Os mulequi pegaro o passarim, agora é deles o passarim". Não discuti, dei por caso vencido. Mas na mesma hora uma senhora que ia todos s dias à missa pela manhã e estava voltando também se apiedou do passarinho. Ela era - já morreu - uma mulher muito educada, ótima pessoa, doce e prática. Não pediu pros meninos soltarem o passarinho. Resolveu negociar com eles. Ela disse aos três garotos: - "Vocês estão vendo aquele vendedor de algodão doce e de pipoca?"- apontou para o vendedor que estava na frente da Rodoviária -, Pois bem eu dou a cada um de vocês três porções de algodão doce e três sacos de pipoca se vocês soltarem o galo de campina. Os moleques olharam uns para os outros e aceitaram a oferta. Ela pagou ao vendedor e eles soltaram o passarinho. O galo de campina voou alto e fez uma cabriola como agradecendo à mulher, depois desapareceu. Ela riu para mim e disse: - "Você não fez o mesmo porque não pensou nessa possibilidade". Exato. E pisou no barro, foi embora. Eu ainda tomei um café pequeno na Rodoviária e uma professora de matemática, muito amiga minha, que ia viajar para o Recife, me disse séria: - "O que aquela beata fez não foi um belo gesto, foi um suborno. Sei que ela não teve essa intenção, mas foi um mau exemplo para os garotos".

Fui para o banco meio cabreiro pensando no caso. Na certa teria feito o mesmo, se acontecesse de novo eu teria feito, mas fiquei até hoje sem saber ao certo se foi um belo gesto ou suborno. Sou meio complicado. Inté.

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