Me pediram para escrever sobre a canoa de voga e eu resolvi sair do lugar comum, não vou falar da importância na época que não havia estradas, que é um símbolo da Cultura Caiçara (mas há uma ignorância, quando os canoeiros precisam da tora da árvore), da estabilidade cavada num tronco só, que surpreende até os especialistas em engenharia naval!

Eu acompanhei a chegada e a saída das canoas caiçaras, nesse vai e vem de mercadorias, na Praia da Frente em São Sebastião (SP). Meu avô Sebastião era um dos que ajudava os companheiros na hora de arrumar a carga nas embarcações.

Muitas vezes vi partir algumas canoas, que depois da carga, não daria para acreditar que ali ainda caberiam 4 ou 6 pessoas que remariam até o destino. Eram esteiras, balaios, frutas, galões de querosene, latas de tinta, cimento, coco, tecido, cordas, banana, ovos, barril de pinga, objetos de barro e por aí vai!

Mas para mim o que chamava mais atenção eram as aves, galinhas e perus eram colocados vivos na proa, acocoradas na borda da canoa, como se acomodam nos poleiros dos galinheiros, por motivos óbvios, sempre de costas para o mar. Seguiam firmes ali até o destino, mesmo com mar bravo e só então eram abatidas e vendidas!

Não sei que mistério envolvia esse procedimento, acho que por causa da movimentação dentro da canoa, elas ficavam quietas e calmas.

O seu Filhinho, o escritor Washington de Oliveira, registrou no seu livro UBATUBA Lendas & Outras histórias (1987) a sua surpresa em observar as aves nas canoas e disse que por causa disso havia um ditado popular que era: “Lugar de peru é na proa”.