- Pai, em quem o senhor votou na eleição passada? - O quê? - Em quem o senhor votou? Na última eleição. - Eu? Eu... eu não votei. - Não votou? - Não. - Ué, mas votar não é obrigatório no Brasil? - Obrigatório? - É. Obrigatório. - Mas... onde é que você ouviu falar uma coisa dessas? - A professora de História que falou. - A professora falou, é? - É. Ela falou que, no Brasil, todo mundo com mais de 18 anos é obrigado a votar. - Bem, se a professora disse isso, ela deve ter razão. - Então quer dizer que o senhor votou? - Tudo bem, eu votei. Quer dizer, não foi bem assim, também. - E como foi? - Como foi o quê? - Como foi que o senhor votou? - Bem, a gente vai lá, na urna, aperta uns botõezinhos e... - Não é isso o que eu estou querendo dizer. Eu sei como a gente vota. - Então porque é que está perguntando? - Eu não perguntei como é que vota. - É claro que perguntou. - Não perguntei não. Eu perguntei em QUEM o senhor votou. - Oras menino, você pára de desmentir seu pai, hem? - Eu não estou desmentindo o senhor. Eu só queria saber em quem o senhor votou. - Pois essa sua professora sabidinha também não ensinou que o voto é secreto? - É, acho que ensinou. - Acha, é? Não tem certeza? - Bem, eu tenho quase certeza que ela falou algo parecido com isso. - Pois, se tem quase certeza, é porque você não anda estudando direito. - Mas pai, o senhor sabe que eu sou o melhor aluno da classe. - Não me venha com essas desculpas. Vai já para o seu quarto para estudar. - Estudar? Mas pai, a gente está de férias! - Nos dias de hoje, um homem nunca pode parar de estudar! Já para o seu quarto, menino! - Tá bom, pai, tá bom... Ele foi seguindo o filho com os olhos. Ouviu a porta do quarto bater. Pah. Levantou-se de sua poltrona, foi até o banheiro, trancou a porta. Olhou-se bem no espelho. E começou a chorar.
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