Dentro do explosivo panorama que abala os alicerces da vida da nação, reveste-se de importância fundamental a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, a chamada "CPI do Waldomiro", instalada recentemente no Senado Federal pela ação dos lideres dos partidos oposicionistas. É bom recordar que o seu principal agente, Waldomiro Diniz, ex-subchefe da Casa Civil da Presidência da República e antigo administrador da Loterj - Loteria do Estado do Rio de Janeiro - na gestão da governadora Benedita da Silva, foi flagrado, em fevereiro de 2004, extorquindo dinheiro do empresário e bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para financiar a campanha eleitoral dos candidatos do PT e partidos da base aliada.

O fato levou o país à perplexidade, mobilizou a opinião pública, a imprensa e o Congresso Nacional que, por sua vez, pressionado pelo clamor geral, tratou de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o escândalo - coisa que o Governo, em manobra canhestra, tratou de abafar. À época, para impedir a "CPI do Waldomiro", o então presidente do Congresso e aliado do Planalto, senador José Sarney, achou por bem não designar os respectivos membros da aludida CPI, preterindo sua instalação. Todavia, acionado pelos lideres oposicionistas, o Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de justiça da nação, decidiu pela obrigação da presidência do Congresso nomear os tais membros. Para completar o quadro de insubordinação, dois senadores governistas, Paulo Paim (PT-RG) e Magno Malta (PL-ES), romperam com a orientação da liderança petista e ofereceram quorum para o início dos trabalhos e à eleição dos respectivos cargos de presidente e vice-presidente da CPI dos Bingos, senadores Efraim Moraes (PFL-PB) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).

Mas, afinal, por que a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos reveste-se de importância fundamental para a vida do País? A resposta é imediata: a "CPI do Waldomiro", entre tantas outras, inclusive a dos Correios, é a única que pode associar diretamente a cooptação do sistema de corrupção instalado no Partido dos Trabalhadores à lavagem de dinheiro proveniente do narco-tráfico explorado pelas FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia -, ora disseminado pelo território nacional. Para ampliar o exame da questão, dois fatos singulares devem ser ressaltados: um deles, o de que em fevereiro de 2004, exatamente três dias antes da eclosão do "Escândalo Waldomiro", o ex-chefe da Casa Civil do governo Lula enviou ao Congresso a Medida Provisória que tratava da "regulamentação da atividade dos bingos", argüindo-se, no texto, entre outros propósitos, o de "organizar o setor e assegurar recursos para o esporte social". De passagem, convém lembrar que, para fins da "implementação técnica" do projeto, o ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, era o assessor de José Dirceu para consultas e informações nas negociações estabelecidas entre a Caixa Econômica e a GTech, empresa especializada no controle e operação de Bingos, caça-níqueis e jogos eletrônicos, uma atividade ilícita responsável pela movimentação de bilhões de reais.

O segundo fato, muito pertinente mas não menos revelador, reporta-se à ventilada doação de US$ 5 milhões feita pelas FARC - a organização colombiana terrorista associada ao narco-tráfico -, destinados à campanha eleitoral do PT em 2002. Conforme registra o relatório (nº 0095/3100) de agente infiltrado da Agência Brasileira de Inteligência, em 13 de abril de 2002, seis meses antes das eleições presidenciais, o padre Olivério Medina (espécie de embaixador das FARC no Brasil), em festividade na Chácara "Coração Vermelho", nos arredores de Brasília, teria confirmado o repasse da cifra milionária. No informe do agente da ABIn, os US$ 5 milhões viriam da Colômbia pela rota de Trinidad e Tobago e seriam "ramificados por 300 empresários ligados ao PT, que o distribuiriam para inúmeros comitês no país".

Convocado para depor no Congresso sobre o assunto, o General Jorge Armando Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República - ao lado do delegado Mauro Marcelo, diretor da ABIn -, confirmou aos presentes que existe documentação que relaciona as FARC com doações para a campanha presidencial de 2002, ressaltando, no entanto, que "não conseguiu encontrar nada de concreto na denúncia e a arquivou", sem levar a investigação adiante.

O problema todo é que agora, além de temporariamente marginalizados do atual Foro de São Paulo, os ativos representantes das FARC, especialmente os que controlam as rendas do narcotráfico, sentem-se inteiramente logrados pelos interlocutores do PT, possíveis beneficiários de doações em dólares e que davam como certo a liberação e regulamentação dos Bingos, caça-níqueis e jogos eletrônicos no governo Lula, atividades de que a narco-guerrilha se serve na América Latina para lavar as bilionárias somas de dinheiros ilegais.

Assim, Waldomiro Diniz, o ex-assessor da Casa Civil do governo Lula, agente do esquema de propinas para financiamento de campanhas eleitorais do PT e conhecedor, como ninguém, dos percalços do jogo no Brasil, pode ser o homem certo na hora exata para explicar como funciona a lavagem do dinheiro do narco-tráfico colombiano no Brasil.

Eis porque a CPI dos Bingos é de importância fundamental para os destinos do País.

Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.