A maioria de nós sabe o que significa: Responsabilidade social. É ser responsável por ações que auxiliem a sociedade a melhorar sua qualidade de vida. Observamos que não existem padrões de excelência para as ações praticadas nos serviços, projetos ou programas. Tem-se a impressão que o marketing, o "achismo" e o improviso regem a maioria dessas ações. Acredito que deva existir, embora eu nunca tenha encontrado, uma empresa que consulte organizações da sociedade civil para saber do que elas precisam. Quase todas empurram para a sociedade um projeto próprio, criado por algum departamento que não entende das necessidades do terceiro setor e apoiado pelo seu departamento de marketing. Se o interesse é auxiliar, por que não perguntar de que precisa a sociedade da região visada antes de inventar alguns daqueles projetos que funcionam só no marketing? Segundo palavras do professor Stephen Kanitz, o que as empresas se propõem a fazer não é exatamente do que as organizações necessitam para realizar o seu trabalho. Dar aulas de inglês para moradores de favelas só porque você é uma cadeia de escolas de inglês não é resolver os problemas do terceiro setor. Pode ser uma forma de resolver o problema da empresa na área social com o menor esforço. Se todas as empresas pensarem assim, quem vai resolver o problema da prostituição infantil, do abuso sexual, da violência, da saúde, dos órfãos, e outros? Há algum tempo eu estava em reunião com o engenheiro responsável pela área socioambiental de um grande laboratório farmacêutico. Ele falava do grande orgulho que tinha por ter conseguido um terreno da prefeitura de São Paulo, vizinho ao prédio do laboratório, onde estavam investindo para inaugurar um jardim público com o nome da empresa. Disse a ele na época que a empresa poderia ser responsabilizada caso o jardim não fosse adequadamente mantido ou policiado, que o local em que se encontrava o jardim, poderia servir de abrigo para marginais. Acrescentei que seriam responsáveis se uma criança por qualquer motivo ali fosse maltratada. O insucesso do empreendimento também seria responsabilidade da empresa. Essa era uma simples idéia que poderia se transformar em um pesado fardo no futuro para a empresa. Sem dúvida eu estava destruindo um sonho construído no interior da empresa com o patrocínio do engenheiro. Ele, irritado, perguntou-me com ironia qual seria a solução. - Muito simples - respondi. - Entregue a administração do jardim à comunidade, fique com as despesas e condicione os pagamentos à realização das tarefas necessárias para a manutenção do local. Aproveite e tire o nome da empresa do tal jardim público. Em seu lugar coloque uma placa em que fique claro o interesse da empresa pela comunidade a ponto de auxiliá-la a criar e manter aquele espaço. Tenho quase certeza de que inauguraram o jardim com o nome do laboratório. Qualquer dia desses passo lá pra ver! Projetos sociais não podem depender dos interesses das empresas e serem abandonados simplesmente porque a empresa mudou a diretoria ou esta mudou seu objetivo ou ainda porque não receberam a premiação que esperavam. De outro lado, muitos ativistas descobriram que podem pressionar uma empresa se atacarem a sua marca. E empresas socialmente irresponsáveis serão atacadas. Hoje a internet proporciona às pessoas um poder de agregação e ação como nunca existiu antes. As empresas sabem disso. Portanto, a responsabilidade social ou melhor, socioambiental, depende da experiência prática e do entendimento abrangente de quem a estiver coordenando. Nesses últimos tempos, as empresas passaram a fundar instituições próprias e investir suas verbas em seus próprios projetos potencializando mais do que tudo o seu marketing, o que diminuiu ainda mais as possibilidades de apoio para as entidades dedicadas ao terceiro setor. Outro grande problema é que esse é um mercado novo para nós, brasileiros, que em 2002 movimentou mais de um trilhão de dólares em todo o mundo e aqui ainda é tratado de forma amadora e apaixonada. A diferença entre as empresas brasileiras e as organizações da sociedade civil de interesse público, quando tratamos da responsabilidade socioambiental, é que as empresas dedicam uma pequena parte do seu tempo e investem uma pequena parte do seu lucro, cujas verbas destinadas aos projetos vêm de valores já embutidos no preço dos seus produtos ou serviços; portanto pagos por nós consumidores, enquanto as organizações da sociedade civil dedicam cem por cento do seu tempo e recursos. É interessante notar que na maioria dos países a filantropia é feita por pessoas físicas, não por jurídicas, o que minimiza a interferência do capital nos serviços, projetos e programas adotados no terceiro setor. Não podemos esquecer que não basta apenas educar e ensinar a pescar, pois, se assim fosse, deficientes visuais não sairiam com óculos, crianças com câncer não seriam curadas e paraplégicos não teriam cadeira de rodas. Alguns devem aprender a pescar e outros a servir. Precisamos compreender que a responsabilidade social é de todos, isto é, das empresas, dos governos e da população. Se cada um de nós esperar que o outro faça a sua parte, é provável que no final ninguém faça nada. Atuar no meio socioambiental depende de profissionais qualificados, pois é uma área altamente competitiva e às vezes uma armadilha para quem não tem o conhecimento prático necessário. Responsabilidade social também é dever do cidadão, não só da empresa ou do governo. Se a população não conhecer como esse trabalho é realizado, como vai cobrar ações e resultados da iniciativa privada ou do governo? Encontraram inúmeras fórmulas para convencer as empresas da necessidade de executar boas ações populares, entretanto poucas estão engajadas com a obtenção de resultados práticos. Teóricos fazem palestras para especialistas que empregam suas teorias em ações simplistas com resultados imensuráveis. A maioria das ações produzidas pelas grandes empresas são pouco abrangentes. Observando os prêmios concedidos a essas empresas, que têm departamentos e interesses no social e ambiental, ficaremos surpreendidos com alguns dos projetos premiados. Responsabilidade social é ser responsável com o social. Será que nós somos? Nota do Editor: Flavio Tomé é Coordenador geral do CNDA.
|