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COLUNISTA
Fátima Souza
24/08/2018 - 06h18
Tsunami
 
 

Passei por um corredor escuro, enlameado por água de lavagem vindo das casas. Esquivei-me dos corguinhos pulando de pedra em pedra que via pela frente até o sopé do morro. Fui me agarrando nos galhos das samambaias entouceiradas no barranco. Avancei alguns degraus sem muita assimetria até chegar à casa dos aniversariantes. Uma rampinha de cimento rústico fazia as honras de mais um degrau a ser escalado. Adentrei a varanda em L, uma mesa de doces atravancava a passagem. Também nela três bolos jaziam encobertos com as bandeiras do Corinthians, Palmeiras e Santos F. C.

Fiz as devidas beijasses tão de praxe. Mas senti alguma coisa estranha no ar. Cadê a felicidade que todo aniversário tem? Parabéns cantados em ritmo quase fúnebre, sei não? Todos pareciam preocupados. Até mesmo os movidos a álcool de plantão.

Seria então, álcool batizado? Está tão na moda hoje em dia!

O ritmo era lento e pesado.

Foi então que ouvi rumores de um possível tsunami. Depois me contaram que uma pessoa da família fugiu sabe Deus pra onde devido ao que ouviu num sermão em sua igreja. Um sermão que videnciava que um grande Tsunami iria devastar todo o litoral. Então ele juntou mulher, filho, e tralhas, e se mandou pra uma cidade qualquer, acima do nível do mar. Ah! Mas deixou o cachorro para tomar conta da casa, caso tivesse que voltar... 

Da varanda em L, observei já de prontas duas mesas de truco formada. Cervejas eram jogadas goela abaixo, sem muita cerimônia, o combustível estava na lata. Uma fagulha e pluft.

Não deu outra, algum tempo depois os ânimos tinham mudado. A alegria deixou espaço para euforia. Jogadores vociferavam, gritavam pulavam, para ganhar na marra.

O caldo começava a engrossar. Entre discurso de felicitações aos aniversariantes, belos palavrões saiam tremendo toda a terra. Terremoto.

Esse terremoto tomou a forma de mulher enciumada. Que desconfiada da demora do marido, subiu o morro, deu um cacete nele, que se encontrava bêbado na mesa de jogo. Ela ainda saracoteou por entre os convidados, que corriam aleatoriamente, o num salve-se quem puder. Fechou o tempo.

Uma onda de gente desceu o morro em segundos, sem dar bola para os degraus.

Dias depois a família fugida voltou. Acho que ficou claro que Tsunami faz o que ele quer. Tanto sobe, quanto desce o morro.


Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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