Tinham escolhido a professora Cléo para organizar a primeira biblioteca da escola. "Vou precisar de voluntários", disse ela uma tarde, em sala de aula, sem tirar os olhos de mim. Os invejosos de sempre torceram o nariz, murmurando entre si, mas a verdade é que ninguém exceto eu levantou o braço, confirmando a expectativa dessa mulher deslumbrante que, na época, podia estar na faixa dos quarenta de idade. "Mais ninguém?", insistiu ainda, sem muito empenho, como se já houvesse alcançado o seu objetivo. E, voltando a assestar-me aqueles dois olhos verdes, sedutores e cruéis como punhais, como diz o fado, acrescentou: "Traga amanhã uma autorização dos seus pais para que você fique mais um pouco na escola depois da aula. E diga a eles que eu mesma o levarei até em casa." Corria 1960, eu contava então onze anos de idade. Meu pai ficou todo orgulhoso comigo quando examinou e assinou a solicitação da professora, recomendando-me, porém, que deixasse em paz os seus próprios livros e não carregasse com nenhum deles, pois não serviriam de nada a alunos do primário. Infelizmente, no entusiasmo de encabeçar a lista de doações, eu já havia surrupiado e enfiado em minha pasta uma bela coletânea de Bakunin, relegado à prateleira mais inacessível da estante desde que meu pai embarcara na onda de Engels e Karl Marx. Minha estréia como bibliotecário foi um dos momentos mais belos da minha vida. Terminada a aula, às cinco da tarde, dona Cléo levou-me pela mão até uma saleta ao lado do bebedouro. A escola mergulhara em profundo silêncio, ouvia-se apenas o raspar monocórdio de uma vassoura no pátio do recreio. No apertado recinto, havia uma poltrona e pilhas e mais pilhas de livros a um canto. "Vamos nos sentar ali", disse ela, indicando a poltrona, "e anotar o título e o nome do autor de cada um desses volumes." Obedeci-lhe, meio encabulado, era a primeira vez que me via assim tão próximo de uma adulta, fora da família. Lembrei-me do Bakunin em minha pasta. "Queria começar com um livro que trouxe de casa", declarei sem olhar para ela e passei-lhe a velha coletânea anarquista, conservando-me de cabeça baixa. Dona Cléo pôs um dedo em meu queixo, levantando-me o rosto, com um sorriso que me deixou tonto e alarmado. "Onde o arranjou?", perguntou, soltando uma risada quando viu a capa do livro. "Era do meu pai", respondi, tentando ajeitar-me melhor na poltrona, pois o busto da professora ficava na altura da minha testa, e eu não conseguia fingir que não estava de olho no belo sinal que ela trazia no colo dos peitos. Atrapalhado, dilacerado por sensações desconhecidas, formei, de repente, uma frase empolada e presunçosa, para libertar-me daquilo: "A senhora já o leu, dona Cleobulina?" Era a primeira vez que lhe dizia o nome por inteiro, ela reparou nos meus cuidados. "Cleobulina é um nome histórico, foi a mãe de Tales de Mileto", disse ela, falando grego para mim. "Sabe quem foi Tales de Mileto?" E, sem esperar resposta, emendou com uma nova pergunta, pegando-me desprevenido: "Gostou do meu sinal?" Sua voz já não era a mesma, parecia mais quente, mais rouca. Senti um calor subindo-me pelo corpo, não sabia onde enfiar a cara, morria de vergonha. Queria fugir dali e, ao mesmo tempo, mergulhar naqueles olhos verdes que não desgrudavam de mim, espiando e seduzindo. Dona Cléo viu minha confusão, esperou que eu me acalmasse, preparando uma nova estocada. "Tenho dois outros sinais muito maiores do que esse", sussurrou-me ao ouvido. "Quer ver?". Estava quase chorando de nervoso, mas assenti com a cabeça, sem encará-la. Ela desabotoou a blusa, deixando à mostra aqueles dois peitos enormes e duros. Pegou-me a mão direita e ajudou-me a trabalhar os seus mamilos, enquanto suspirava e fechava os olhos, mexendo estranhamente com a boca. "Meu filhinho querido!...", disse, de repente, oferecendo-me com ansiedade o bico direito, e desmaiando num longo gemido quando colhi em minha boca aquele botão vermelho e intumescido.
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