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Crônicas
15/07/2005 - 06h08
O cachicol rosa e o ócio criativo
Débora Carvalho
 

Segundo a teoria do ócio criativo, do sociólogo italiano Domenico De Masi, o trabalhador moderno começa a trabalhar lá pelas dez horas da manhã, dentro de casa, ainda vestido de pijama, ouvindo seu CD predileto e organizando ele mesmo como será o seu dia de trabalho.

Segundo De Masi, vivemos na sociedade pós-industrial, onde o homem é apenas mais um elemento produtivo, na qual a distribuição do poder, do saber e do trabalho é desigual. Além disso, reina uma verdadeira obsessão consumista que faz do homem um autômato sem tempo para desenvolver-se como um todo.

Hoje, trabalhamos de forma tão primitiva como se fazia muito antes do surgimento da indústria. Nossas horas de lazer não passam de uma ilusória compensação pelas horas trabalhadas, fazendo nada. Fazer nada não é lazer de verdade.

Para tornar úteis as horas desse falso lazer, o fazer nada, o sociólogo propõe a teoria do ócio criativo. Ócio não significa preguiça, sedentarismo ou alienação. Mas sim um poeta deitado na rede, compondo mentalmente seus versos, um compositor dedilhando seu violão e inventando música, uma criança construindo seus próprios brinquedos com materiais recicláveis. O ócio criativo significa um exercício do sincretismo entre atividade, lazer e estudo, propondo ao homem que ele se desenvolva em todas as suas dimensões.

Domenico não prega a diminuição das horas de trabalho em si, antes até um aumento, mas que a atividade não seja tão estafante quanto a de quebrar pedras. Deve haver uma fusão entre produção e prazer. Se a necessidade é a mãe das invenções, o ócio é o pai das idéias.

A nova base econômica proposta por Domenico interfere em grandes conglomerados e multinacionais, e atinge diretamente a cultura de países e o modo de pensar de bilhões de indivíduos educados para se tornarem produtores-consumidores, ao banir obsessão pelo trabalho ou pela produção, substituindo a acumulação de bens materiais por um estilo de vida mais complexo - ao mesmo tempo mais simples, mais feliz e mais produtivo.

Longe de ser anacrônica, a teoria de Domenico já encontra adeptos em todo mundo. Inclusive nas grandes empresas há casos de empregados que desenvolvem suas atividades em casa ou mesmo possuem horários de trabalho totalmente flexíveis.

Aplicar essa teoria na vida significa menos horas diante do aparelho de televisão, salvo para assistir a programas com conteúdos que realmente irão contribuir para o crescimento pessoal. A flexibilidade de horários e muitas atividades que podem acabar com a rotina podem libertar muitas pessoas do vício na telenovela.

Aplicada às crianças, nas tarefas de casa, ao invés de assistir a filmes e desenhos, as crianças podem descobrir seu potencial para criar coisas, desenvolvendo seus próprios brinquedos, escrevendo livros infantis ou aprendendo tocar um instrumento musical, e assim desenvolver hobbies que podem ser mais produtivos do que aprender a lidar com controles remotos.

Vemos muitas campanhas contra o lixo da televisão. Talvez, o melhor a se fazer não seja colocar bons programas na TV, para continuarmos a fazer nada no nosso tempo livre. Talvez a grande revolução seria não ligar a TV porque existe algo mais interessante para ser feito.

Outro dia, tive que ir a um banco em Santo Amaro. Andando por lá, vi uns cachecóis lindos. Eu fiquei com vontade de comprar um cor-de-rosa, procurei um com boa lã, mas custava sessenta reais. "Eu não vou pagar tudo isso." Fiquei triste e desisti de comprar.

Então, lembrei que tinha aprendido crochê quando ainda tinha oito anos, com minha falecida avó. Gastei uns cinco minutos procurando uma loja que vendia lã, e comprei um novelo de uma lã especial e maravilhosa. Gastei catorze reais. Nesse domingo, meu irmão me convidou para ir a sua casa ajudar fazer pão, e assistir ao filme Olga. Como já tinha assistido ao filme no cinema, resolvi levar meu novelo de lã, e curtir os momentos em família. Dei as dicas para o pão... e ao acabar o filme, meu cachecol estava pronto. De sessenta reais, gastei apenas catorze e o tempo do filme.

No trabalho, perguntaram onde comprei o cachecol, e ao saber que eu fiz, algumas amigas já disseram que vão trazer a lã para que eu faça para elas. Um dinheirinho a mais que vai entrar. E com certeza, os próximos vou conseguir fazer mais rápido porque: "Aquilo que persistimos em fazer torna-se fácil, não porque a natureza da tarefa muda, mas porque a nossa capacidade de fazer aumenta." (Li isso em algum livro, e só lembro a frase).

Essa foi uma das maneiras de usar meu ócio criativo. Espero conseguir mais. Espero ter menos tempo para a televisão. Espero produzir mais, com mais alegria.

Termino com um apelo para você: Como você tem usado o seu tempo livre? Da mesma forma que o resto do mundo, fazendo nada? Ou tem buscando o seu melhor e o melhor do mundo?


Nota do Editor: Débora Carvalho é estudante de Jornalismo.

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