A deusa Héstia (para os gregos) ou Vesta (para os romanos) era a expressão da pureza. Assim, todos os ritos a ela dedicados consistiam em processos de purificação. Seu templo era servido por virgens, as vestais, que representavam, em ciclos de dez anos, a pureza da imaculada filha de Geia e Saturno. Nas esculturas e pinturas gregas e romanas, a deusa e suas sacerdotisas aparecem vestidas com túnicas simples, tendo os pés descalços ou portando sandálias. A simplicidade, aliás, sempre foi própria da pureza e da verdadeira virtude. A pureza não se exalta nem se ensoberbece. Não se impõe nem se sobrepõe. Não se exibe e não se jacta. Ao contrário, se compraz do silêncio e da discrição. A pureza acusa o vício com a simples presença e não com a rispidez do gesto ou a fúria do algoz. Foi exatamente pela virulência que Tomas de Torquemada, como grande inquisidor de Espanha, acabou por produzir irreparável dano moral ao brilhante reinado de Fernando e Isabel. Sempre percebi flagrante contradição entre os pés descalços das vestais e o salto alto de cima dos quais certos grandes inquisidores agrupados em partido político se alçavam à condição de zelosos vigilantes da moralidade pública. Exibiam-se como farinha de outro saco, ou melhor, como vestais de outro templo. Eu os vi ascender por essas escadarias, com os saltinhos dos sapatos batendo nos degraus, e sempre me intrigava aquela ostentação de virtudes que não condiziam com a vaidosa arrogância da atitude. Muitos, ao tempo dos assim chamados "anos de chumbo", haviam aprendido a defender a democracia em cursos feitos em Cuba, Pequim e Moscou. Haviam custeado suas atividades, durante longos anos, com o produto de assaltos a bancos (chamavam isso de "expropriação"). E, recentemente, haviam convertido os "anos de chumbo" em anos de ouro buscando milionárias indenizações com que, novamente, arrombaram os cofres nacionais. Estas são observações e reflexões feitas a partir de fatos que, com os demais brasileiros, presenciei ao longo dos anos. Porque vi acontecer me permito analisar. O resto, o que anda sendo investigado por aí, apenas observo entristecido. Não é bom para o país. Queira Deus que, ao fim e ao cabo, se constate que o dedo daquela senhora que se dizia cansada de contar dinheiro, tenha trabalhado para APAEs, creches, asilos, e outros desprovidos da fortuna. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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