Por mais cuidado que se tenha quando se conta ou reconta um fato, sempre se acrescenta ou se reduz alguma coisa. Não se trata de uma gravação, filme, algo captado por uma câmera. Sempre, como dizemos na minha terra, enfeitamos o maracá da nossa narrativa. É comum, normal, natural. Tem mais: a história foi escrita por seres humanos, todos eles susceptíveis à paixão, às tentações dos seus egos, às suas idéias, assim sempre as acrescentaram ou retiraram algo, alteraram os fatos. Acho que até a própria Bíblia sofreu esse tipo de influência, foram muitos os seus autores. Vou até mais longe, a história, tudo que se escreveu sobre ela é em grande parte ficção. Não, não riam, é verdade, sobretudo a história oficial. A imaginação sempre influenciou, também as lendas. a história oral, o contexto e etc. e coisa e tal. Acho mesmo que muita coisa da história é baseada nós Contos das Mil e uma Noites, na Bíblia e na Mitologia Grega. Adaptaram, filaram, copiaram, imitaram... Essa história que dizem ter sido escrita com isenção, imparcialidade e verdade é tudo lorota. A história é diferente da ciência. Completamente. Esta até prova e convence, a outra é só chute e apenas um mínimo de verdade, a maior parte é mentira e invenção. Sem nenhuma dúvida os historiadores terminaram enfeitando o maracá, puxando a brasa para a sua sardinha, fazendo valer o seu ponto de vista, o que eles gostariam, segundo sua vontade e idéias, que tivesse acontecido. Ou então escreveram de encomenda para servir a seus patrões. Daí a necessidade de interpretação e questionamento. Só que cada leitor é também de certa forma metido a co-autor e, claro, também enfeita o seu maracá. Vou concluir esta mal traçada com uma reflexão sobre a história e a ficção de um grande intelectual, um dos maiores de todos os tempos, Arnold Toynbee: "A história, como o drama e o romance, é filha da mitologia. É uma forma singular de compreensão e expressão, na qual - assim como nos contos de fadas amados pelas crianças e nos sonhos típicos dos adultos sofisticados - a linha demarcatória entre o real e o imaginário não foi traçada. Dizem, por exemplo, a respeito da Ilíada, que aquele que resolve lê-la como um relato histórico nela encontra ficção, e, em contrapartida, que aquele que a lê como uma lenda nela encontra a história. Nesse aspecto todos os livros de história assemelham-se à Ilíada, pois não conseguem nunca eliminar inteiramente a ficção. O simples fato de escolher, combinar e apresentar os fatos constitui técnica que pertence ao domínio da ficção". Creio que não preciso desenhar que a história oficial sobre a Proclamação da República nem chega a ser ficção, é anedota. A história é uma piada. Inté.
|