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Crônicas
15/07/2005 - 10h18
Os donos do Brasil e o (a)moral da história
Lula Miranda - Agência Carta Maior
 

Sim, caro leitor, você, assim como eu, talvez na empolgação, no entusiasmo, pode até ter se esquecido deste "detalhe": o Brasil tem dono(s). Tá certo que a nossa ingenuidade e voluntarismo, ou a ingenuidade e voluntarismo de alguns que terminou por contaminar a muitos, fizeram-nos acreditar que um ex-metalúrgico ao chegar à Presidência da República conseguiria, pois assim lhe seria permitido, de algum modo mudar o país e devolvê-lo aos seus verdadeiros donos: sua gente, seu povo. Ou, pelo menos, que seria capaz de nos devolver a chama da esperança que há muito nos fora roubada. Ledo engano.

O Brasil tem os seus donos, não se pode perder isso de vista. Isso desde sempre. E parece que a gente simplesmente resolveu, de uma hora para outra, esquecer essa verdade tão óbvia, tão gritante, tão presente em cada um dos fatos que permeia a nossa realidade, o nosso dia-a-dia.

Aconteceu que, um dia, esses senhores, os "donos" do Brasil, em sua "generosidade" e "benevolência" máximas, nos permitiram conduzir Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República (não sem antes firmar com este uma espécie de pacto de não agressão, claro). Talvez até para que assim continuássemos servindo, sim, aos seus interesses (da elite, veja bem), mas, agora, movidos por uma fortuita alegria e esperança. Ou talvez, sempre na visão dessas elites, até mesmo para que através dessa mesma tênue alegria e esperança tivéssemos, por um certo período de tempo, apaziguada a nossa ira santa (tá certo que alguns desses senhores, alguns poucos, até apoiaram "de coração" a candidatura de Lula por ver nela possibilidade de mudança, de melhorias no país, claro, mas, e principalmente, em seus negócios - como é o caso dos grandes varejista, donos de redes de supermercado, e outros negócios que apostavam na ampliação dos mercados com a redução da nossa gritante exclusão).

Esses senhores (sim, tal qual os senhores de engenho de tempos arcaicos), os donos do Brasil, são essas pessoas, essas famílias que, em sua maioria, praticamente desde o tempo das capitanias hereditárias, mas cujo núcleo duro, por assim dizer, originou-se e solidificou-se à época do início do processo de industrialização brasileiro ou à época do ciclo do café em São Paulo (quem nunca ouviu falar nas tais famílias "quatrocentonas", algumas até já falidas), do cacau na Bahia ou do açúcar em Pernambuco vêm se sucedendo na empunhadura da chibata que nos subjuga e escraviza. Apenas nos utilizam, em substituição aos antigos escravos, como mão-de-obra barata para servi-los ou para legitimar seus (des)mandos. E não há novidade alguma nisso. Isso você poderá constatar olhando à sua volta ou lendo um pouco da obra de Raymundo Faoro, Helio Pelegrino, Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freire e, por que não, Lima Barreto, entre outros. Mas o problema é que, parece, estamos todos cegos e ler é algo que já não podemos fazer, pois eles, os donos do Brasil, destruíram de tal sorte o sistema de ensino do país que nós, brasileiros, idosos ou jovens, do campo ou dos grandes centros urbanos, já somos, em nossa imensa maioria, analfabetos (funcionais ou "de berço"), ignorantes e/ou iletrados. Portanto, somos escravizados e alijados da cidadania mínima agrilhoados que estamos pela nossa própria ignorância e alheamento - e somos assim mantidos ainda sob a chibata dos "donos" do Brasil.

Quem são esses "donos" do Brasil? - você perguntaria. Quem seriam essas pessoas, essas famílias que se alternam ad eternum no comando de oligopólios e oligarquias - por conseguinte, no comando do país? Apesar de avaliar ser desnecessário, pois são sobejamente conhecidos, posso lhes citar alguns nomes, ou melhor, sobrenomes, para que possa melhor identificá-los: Frias, Mesquita, Marinho, Moraes, Diniz, Magalhães, Bornhausen, Setúbal, Brandão e alguns outros tantos de grafia estrangeira que não ousaria escrever seus nomes por medo de cometer seguidas gafes ortográficas.

Sim, decerto você já os consegue identificar pelo sobrenome. Alguns deles são donos de grandes grupos industriais, comerciais, bancos ou de grandes oligopólios da mídia. Aliás, a forte presença de oligopólios na economia é uma característica de repúblicas como a nossa. Definidas, maliciosamente, por alguns como república de bananas - remetendo, claro, tanto à fruta como aos cidadãos. Característica típica de países com alta (e vexaminosa) concentração de renda.

Mas eles, os "donos" do Brasil (repito apenas para que não esqueçamos de quem estamos falando), mesmo quando não são exatamente eles os proprietários dos grandes oligopólios da comunicação, estão todos muito bem representados na grande mídia, no hoje chamado 4º poder que é a grande imprensa. Lá, quando não ocupam o posto de colunistas, no caso dos "jornalões", têm tribuna livre na condição de colaboradores freqüentes, habitues - é só observar a presença dos senhores Antônio Ermírio de Moraes (colunista) e Jorge Bornhausen (colunista informal) nas páginas "nobres" do jornal Folha de S.Paulo, por exemplo. Os seus descendentes e apaniguados também têm espaço assegurado. É que, há muito, as nossas elites já descobriram que numa sociedade de massas, como já dizia o velho guerreiro: "quem não se comunica, se trumbica". Ou, num raciocínio menos pueril e grosseiro quanto aquele dirigido às massas: para dominar as pessoas é preciso dominar as suas mentes, ou seja, o seu pensamento. E a mídia (seja a eletrônica ou a impressa) é a ferramenta e veículo maior dessa dominação. Afinal, é por intermédio da imprensa e da TV, que se formam as opiniões que terminam por constituir e sedimentar a tal opinião pública. Não à toa as emissoras de TV, os jornais e revistas foram entregues às mãos zelosas de empresários e políticos. Sim, políticos - claro! Tá pegando o fio da meada? Tá percebendo a nuança amoral e o moral dessa história?

Portanto, caro leitor, não estranhe o fato dos articulistas dos grandes jornais, verdadeiros escribas do "príncipe", sabujo das elites, usarem sua pena venal para engrossar o coro uníssono dos que querem nos convencer de que não há pretensão golpista alguma em curso hoje no Brasil, que as elites estão plenamente contentes e satisfeitas com o governo Lula etc. O que eles não dizem é que as elites sempre terão seus interesses atendidos por qualquer governo, independente de qual seja ele, pois como já disse, e repito, eles são os donos do Brasil (donos, agora sem aspas mesmo). E isso vem assim se dando desde sempre. Não custa lembrar aqui também que vivemos num país capitalista, onde, por definição, os meios de produção estão nas mãos de uma determinada classe chamada burguesia. Ou pretendiam que Lula tirasse o país da crise implantando um socialismo "de emergência"? Para o país crescer é necessário, num primeiro instante, que os empresários, os comerciantes, o pessoal do agronegócio, da indústria recebam incentivos/estímulos - ou não? Outra: o que hoje incomoda as elites, e isso precisa ficar claro, é que não são os seus iguais que estão instalados em alguns dos mais importantes postos da República. É isso que incomoda tanto os sabujos abrigados na Redação do jornal Folha de S.Paulo e da revista Veja, por exemplo. No atual governo tem gente interessada em distribuir renda e riqueza. É isso que incomoda a burguesia paulista - e que os fez defenestrar Marta Suplicy e sua equipe da prefeitura de São Paulo. É isso que incomoda os freqüentadores da Daslu. E até, por extensão, uma boa parte da classe média.

Ou não é uma estratégia golpista essa avalanche ininterrupta de notícias negativas e de denúncias sobre o PT, muitas delas falsas? Ou não é uma estratégia golpista estimular, nas entrelinhas do discurso, no subtexto, o impeachment do presidente Lula? Não é uma estratégia golpista manter um governo fragilizado até o seu final sob o jugo de chantagens e ameaças? Ou não é um golpe negociar a interdição da possibilidade de reeleição do presidente como condição para que ele possa conduzir o seu mandato até o final? Não é "golpismo" contaminar o noticiário com falsas denúncias, falsos crimes, sempre, é claro, mesclando tudo com outras denúncias, essas sim factíveis, com lastro na realidade e na observação dos fatos? Não é "golpismo" manipular a opinião pública de tal sorte visando claramente fragilizar o presidente e destruir a história de seu partido? O demônio está nas entrelinhas, meus caros.

Não se quer aqui negar a evidência ululante que o senhor Marcos Valério era uma espécie de lobbista e arrecadador de recurso para campanhas via caixa 2. Não se quer aqui negar que alguns dirigentes do PT deixaram-se seduzir pela charme rastaqüera do senhor Valério e entraram na onda (e afogaram-se) dessa infame praxe política que era (espero que deixe de ser algum dia) regra na nossa República, no nosso sistema político vigente. Mas por que não informar que esse senhor Valério, a observar-se os indícios e os fatos, "operava" para todos os partidos - para os abjetos PP, PTB e PL, mas também, ao que parece, para o PT e PSDB? Por que a grande imprensa deseja ocultar essa verdade? Para preservar os fundamentos dessa República corrompida?

Por que não informar à população, sem meias palavras, que essa proposta de déficit nominal zero é imoral, infame, desumana? Que esse é mais um prato indigesto e requentado que essa mesma elite gostaria de nos impingir - elite essa que deseja nos usurpar o poder a qualquer custo, e que, a essa altura, parece já supor carregar um "nocauteado" presidente Lula no colo. Quando esse governo lança na sociedade um debate como esse é, das duas uma, ou já está acuado, refém dos "fundamentalistas de mercado" ou pretende desviar o foco da crise através de estratégia diversionista.

Déficit nominal zero é o Palocci querendo, cada vez mais, legitimar-se como alternativa possível aos olhos dos donos do Brasil. Palocci este que, não podemos esquecer esse "detalhe", junto com Cristovam Buarque e alguns outros petistas, deixou crescer as penas/plumas e o bico de tal maneira que ninguém ousaria dizer que não está diante de um tucano.

A implantação de programa como o déficit nominal zero representaria a capitulação do governo Lula diante desses setores mais conservadores das elites, que, numa gritante impropriedade semântica, são chamados de "liberais". Déficit nominal zero, na verdade, é a reedição do velho lema de "fazer crescer o bolo primeiro, para depois dividir". Sei que temos todos a memória fraca, já não lemos sequer bula de remédio e temos demonstrado incapacidade para aprender o que a história nos ensina, mas não custa lembrar quem é o pai dessas duas crianças: Delfim.

É, melhor dizendo, seria, o fim.

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