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SEÇÃO
Crônicas
06/12/2018 - 06h43
Céu de brigadeiro
Marina Alves
 

Coisa bonita, as palavras! E mais bonito ainda, os seus significados. De repente me vem à cabeça: casquete. Viajo no tempo e lembro os meninos da vizinhança, ardendo ao sol com seus casquetes na cabeça. Sim, o casquete nada mais é que o boné, o bom e velho boné, paixão, principalmente, da molecada adolescente.

Mas do casquete me vem a palavra encasquetar. Teriam as duas, por acaso, ligação estrita entre si? Têm sim, as duas têm a ver com cabeça. Mas, diferente da palavra casquete, praticamente extinta, o encasquetar é bastante usual; vira e mexe vejo alguém dizendo: Poxa, agora esse trem me encasquetou! Nesse caso, a pessoa está dizendo apenas que alguma coisa não lhe sai da cabeça. É aquela sombra, aquela dúvida que não se esclarece, mas também não deixa em paz.

Encasquetar é cismar. Alguns até são de encafifar, que no fundo dá na mesma: é a coisa que surge de repente, não se explica, não se resolve e fica ali martelando as ideias sem qualquer resultado. Encasquetamento não se explica, mas sei que quando vem, tira a paz do vivente, costuma ir num crescente, até virar um monstro de sete cabeças, daqueles feios de matar.

Algumas coisas me encasquetam. Por exemplo, expressões que o povo toma por costume e sai propagando, sem saber o que está dizendo. Feito areia no vento, aquilo se esparrama e quando se vê, lacrou! Porém, quando se pergunta a origem da expressão, ninguém, ou quase ninguém, sabe o que é, ou porque está a repeti-la em determinado contexto — muitas vezes, equivocado, diga-se de passagem.

A primeira vez que ouvi a expressão céu de brigadeiro, encasquetei: O que quererá isso dizer, Senhor? Pra variar, a pessoa que a usou, também fez cara de Sei lá, só sei que dizem, acho bonito e digo também. Concordei. A expressão é realmente atraente: céu é tudo de bom, brigadeiro também é do gosto popular. Soa bonito, só pode ser coisa boa. Inevitável, não imaginar milhares de docinhos granulados, boiando na imensidão do espaço sideral. E que espaço irresistível, hein?

Pois bem, eu soube depois que céu de brigadeiro veio de uma gíria carioca, das décadas de 40 e 50, e não tem nada a ver com delícias achocolatadas adoçando a atmosfera: céu de brigadeiro sinaliza apenas céu azul e límpido, condição propícia para que o Brigadeiro — figura do mais alto comando na hierarquia da Força Aeronáutica — pudesse decolar e voar em segurança.

Depois de saber sobre o céu de brigadeiro, confesso, a expressão perdeu a graça, a poesia se desfez. Passei a imaginar, no lugar dos cobiçados docinhos, a cara sisuda de um Brigadeiro, no orgulho de sua patente, tomando lugar na aeronave pronta para singrar os céus azuis. Como associar a seriedade do comandante à doçura do docinho preferido das pequeninos (e grandinhos), estrela principal das festinhas infantis? Impossível.

Em todo caso, passado o encasquetamento, constato: apesar do sucesso que ronda o brigadeiro, nem gosto desta guloseima tanto assim: ela é a último que escolho no pratinho dos doces. Só mesmo quando já se foram o moranguinho, o cajuzinho e os bombons de coco, limão e abacaxi. Sendo assim, nem faço tanta questão de céu de brigadeiro... Em ter que escolher algum céu... Sou muito mais céu de bala de mel... Nem só pela boniteza da rima, mas porque essa bala é pura boniteza no céu da boca.

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