O leitor acorda pela manhã e procura, no jornal, as grandes notícias do dia anterior. Folheia e se depara com uma primeira coluna, com outra e mais outra. Muita opinião, poucos fatos. Nas colunas políticas - como já bem disse o professor francês Dominique Wolton, em seu livro "Pensar a Comunicação" -, os responsáveis por elas "acham significações ocultas em estratégias improváveis." E passam isto para os seus leitores, como se fossem verdades "inacatáveis". Em outra coluna, como se todo mundo tivesse se tornado adorador de animais, reinam capivaras e gatos, tratados com se o tema fosse a principal preocupação das pessoas na cidade. "Fitas-bananas" substituem qualquer discussão séria sobre cultura, afinal, como já cantou o ministro de eventos Gilberto Gil, "a cultura, a civilização / elas que se danem / ou não." Nosso leitor desiste do jornal e liga o rádio. Comentaristas debatem de energia nuclear a pedofilia, passando por atentados terroristas e alta dos juros, sem titubear. Eles sabem de tudo, pontificam sobre qualquer coisa. Pula para a televisão, e lá está o radical a favor, o indignado de sempre, o "hay gobierno, soy a favor". Ao surgir, na Grécia, a filosofia estava ligada a duas palavras: alétheia, a palavra verdadeira, dos poetas, dos magos e dos sábios; e dóxa, a opinião dos guerreiros. Enquanto a primeira seria a razão, idêntica para todos, a dóxa seria múltipla e variável. Passados muitos séculos, a questão do que é verdade e do que é apenas opinião continua presente na sociedade, expressando-se em diferentes esferas do conhecimento e da ação humana. Uma delas é o jornalismo. Podemos pensar numa analogia, no jornalismo, em que a alétheia poderia ser representada pela matéria-prima das notícias e reportagens, que são os fatos, concretos e objetivos; nas colunas, nos editoriais e nos artigos de colaboradores, teríamos apenas dóxas, com a pretensão de, a partir de opiniões subjetivas, persuadir e convencer os leitores / ouvintes / telespectadores. Desde o início, fatos e opiniões estiveram presentes na imprensa. No entanto, hoje, por variados e diversos motivos, um deles - talvez o principal - a redução de custos, é facilmente constatável a ampliação do espaço de colunistas, ocupando cada vez mais áreas, que deveriam de matérias e reportagens. Diante da atual realidade, só nos resta pedir aos veículos de comunicação para que coloquem uma mensagem alertando ao leitor / ouvinte / telespectador de que o conteúdo das colunas/comentários são apenas opiniões. E, como dizia Guimarães Rosa, "pãos ou pães é questão de opiniães." Nota do Editor: Marcus Miranda é jornalista.
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