Desde o nascimento todos acharam que Totonho não viveria muito. Logo na primeira mamada engasgou, arroxeou, e perdeu o fôlego. Os médicos já o davam por morto, quando ele num berreiro voltou a respirar. Na infância teve bronquite, rinite, meningite, catapora, asma, sarampo, rubéola, e todo tipo de inflamação. Passou quase toda a adolescência trancado dentro de casa. Tinha pulmão fraco e qualquer ventinho fazia mal. Casou e aposentou na mesma época. Um câncer no estômago o fazia passar mais tempo no hospital do que em casa, mas, mesmo assim, Totonho foi pai duas vezes. Sempre que a ambulância surgia na rua, os vizinhos achavam que dessa vez era definitivo, mas o tempo foi passando. Nasceram uns, morreram outros e o doente foi sobrevivendo aos “saudáveis. Primeiro faleceu a esposa. Uma pneumonia mal tratada foi a causa. Depois foram os dois filhos. Um de uma queda de cavalo, e o outro de cirrose. Dizem as más-línguas que bebia demais e comia pouco. Uma vizinha bondosa passou a ir amiúde à casa do Totonho. Fazia comida, cuidava das roupas e, aplicava injeção para controlar a glicose do amigo. O fato é que esse anjo de caridade apareceu grávida e morreu de complicações durante o parto, levando a criança consigo. Quanto ao Totonho passou quase um ano em coma, e no dia em que os médicos decidiram desligar as máquinas, sentou na cama, arrancou os fios presos a ele e disse que queria comer torresmo com farinha. A morte só o conseguiu levar no dia em que completou 99 anos, e não foi por doença. Foi por puro cansaço de viver.
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