Não dá para entender como a chamada grande imprensa e figurões das "elites" políticas insistem em assegurar a "inocência" de Lula. Nos últimos dias, pelo menos dois jornalões do eixo Rio-São Paulo, diante do completo apodrecimento do aparelho governamental, tratam de avalizar a integridade moral do "mandatário", tomando como ponto de partida, na inconsistente defesa, a "biografia" do ex-líder sindical alçado à presidência da República. Ora, se existe coisa nebulosa em torno de Lula, esta é, exatamente, sua biografia, como se sabe, cheia de episódios obscuros, acontecimentos sinuosos e fatos comprometedores - para dizer o mínimo. Feito o levantamento dos dados em disponibilidade, verificar-se-á que o atual presidente, para ficar somente na sua agitada vida sindical, tomou ciência ou esteve por trás de fatos e versões que trituram qualquer imagem da boa ética. Por exemplo: suas atribuladas relações de trabalho com os patrões do ABC paulista; seus encontros privados com o ministro do Trabalho da ditadura militar, Murilo Macedo, no sítio deste, em Atibaia - SP; as ligações promiscuas com o empresário Roberto Teixeira, hospedeiro de Lula acusado de prática de ilícitos pelo secretário da Fazenda de S. José dos Campos, o petista Paulo de Tarso Venceslau, posteriormente demitido do cargo por determinação do então presidente do PT (o próprio Luiz Inácio Lula da Silva); a omissão diante do "Escândalo Lubeca", na propina de US$ 200 mil repassada, segundo o funcionário Paulo Albernaze, pela incorporadora da empresa Moinho Santista para o caixa da campanha presidencial de 1989; a acusação da ex-mulher de Lula, a enfermeira Miriam Cordeiro, em torno da rejeição da filha Lurian, o que, segundo a lenda, ao ser apontada por Collor de Mello na campanha presidencial de 1989, teria levado Lula, até então santificado, à derrota eleitoral; em suma, vários casos que, em conjunto ou isoladamente, mesmo se encarados à luz da "moral revolucionária" como simples "desvios" de conduta, liquidam com qualquer "biografia", especialmente a de um político messiânico que se propala acima de qualquer suspeita. Na verdade, como se sabe, não haveria na vida brasileira a ascensão de Lula - um operário esperto, mas completamente despreparado (não lê nem jornal) - se não houvesse, por trás dele, a sistemática atuação da esquerda armada (nutrida na mais deslavada mitologia do castro-comunismo) em parceria com a igreja apóstata cevada na Teologia da Libertação - sem falar, é claro, no obstinado apoio dos intelectuais de esquerda (festiva ou não), todos nutridos na crença do marxismo gramsciano, voltado, por sua vez, de forma estratégica e determinada, para a ocupação do aparelho do Estado "burguês" com vistas à formação de um "senso comum" socialista. (E que gente é essa que pretende salvar o Brasil via a ortodoxia socialista totalitária? Sai de algum celeiro de sábios dotados de conhecimentos especiais e superiores? Ou de alguma constelação de santos aureolados pela sabedoria, tolerância e bondade divinas? Não, de forma alguma - muito antes pelo contrário: tudo gente da baixa classe média sequiosa de ascensão social, tipo Zé Dirceu, Genoíno, Frei Betto, Boff, Gushiken, Delúbio Soares, Silvinho, artistas drogados sugadores de verbas públicas, professores universitários ignorantes e ideólogos uspianos, todos aferrados ao dinheiro líquido e certo da máquina estatal, uma gente egoísta e hipócrita, muito sensível às massas nas abstrações e projetos, mas insensível às dores e às misérias reais, principalmente quando próximas ou dispendiosas ao próprio bolso). A associação de Lula com esse tipo de gente, juntando a fome com a vontade de comer, não poderia desaguar senão no mar de lama que afoga o País. Uma vez conquistado o governo, e espelhados na experiência socialista cubana-chinesa-soviética, partiram os arautos da "boa ética" na política, de imediato, para a vertiginosa ampliação dos quadros do partido, com a formação de exército de mais de 800 mil filiados, todos inebriados pela efetiva possibilidade de ingresso no aparelho do Estado, como se sabe, transformado, legal e ilegalmente, num gigantesco guarda-chuva a ser financiado pelo suor do contribuinte escravizado (com direito a rebarba do dízimo partidário). Para a manutenção do aparato partidário-ideológico durante "pelo menos 12 anos no poder" (palavras de Zé Dirceu), montou-se, no teatro das operações, uma farsa de proporções trágicas encenada por marqueteiro reconhecidamente contraventor. Nela, cada qual cumpria o seu papel: enquanto as lideranças do PT e coadjuvantes da base aliada, "sem medo de ser feliz", saqueavam e repartiam os soberbos recursos das bilionárias estatais e seus fornecedores, criando a mais fantástica cornucópia jamais imaginada para aliciar políticos, mídia e tutti quanti, Lula da Silva, o "inocente", deixava o País às feras e representava (de forma canhestra) pelo mundo afora o atrevido papel de líder carismático do Terceiro Mundo, a denunciar a "insensibilidade dos países ricos" e a anunciar cinicamente os milagres do programa "fome zero" - com ele próprio, Lula, cada vez mais falante, gordo, comido e bebido. O moralmente adequado, para além da aplicação das penalidades possíveis, seria Lula reconhecer que foi criminosamente irresponsável, pedir desculpas à nação e assumir a culpa pelo que de nefasto arrosta o seu desgoverno. Como ele decerto não fará isso, cabe (aqui, recorrendo ao chavão "politicamente correto") a "sociedade organizada como um todo" enxotá-lo da vida pública nacional. O mais rápido possível. Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.
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