Aparelho desenvolvido na FM foi testado em seres humanos e deve estar disponível nos serviços médicos em dois anos, para acompanhar respiração artificial em UTIs e realizar diagnósticos
Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), é essencial medir a distribuição do ar inspirado em pacientes com respiração artificial, para evitar complicações pulmonares fatais. Um aparelho de tomografia portátil desenvolvido na Faculdade de Medicina (FM) da USP usa corrente elétrica para obter imagens da passagem do ar nos pulmões. O tomógrafo também poderá ser usado no diagnóstico de doenças pulmonares e para avaliar a circulação de sangue no pulmão e coração. De acordo com o médico pneumologista Marcelo Brito Passos Amato, que coordenou a pesquisa, o aparelho é composto por um módulo eletrônico e um cinto com 16 a 32 eletrodos ligados a um computador. "O cinto é fixado ao redor do tórax do paciente e a corrente elétrica é injetada em um par de eletrodos", explica. "Injetando a corrente seqüencialmente nos demais pares, é possível percorrer todo o perímetro torácico e construir a imagem de uma seção transversal do tórax, representando a circulação de ar dentro dos pulmões." O desenvolvimento do aparelho começou há cinco anos. As primeiras experiências foram feitas em porcos e, desde 2003, a técnica é testada em pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e voluntários. O médico afirma que em pacientes com insuficiência respiratória submetidos a respiração artificial, existe a preocupação de evitar a ventilação excessiva com altos volumes a altas concentrações de oxigênio. "É preciso encontrar um grau mínimo de aeração que não provoque lesões e infecções pulmonares", diz. "A idéia é que o aparelho se torne obrigatório nas UTIs, evitando complicações durante a ventilação mecânica, como já acontece com a máquina de eletrocardiograma e o oxímetro de pulso, que monitora a oxigenação arterial." Diagnósticos Uma série de diagnósticos pulmonares poderão ser feitos a partir da tomografia por impedância elétrica, aponta Amato. "Além de indicar os efeitos da ventilação artificial em UTIs, será possível detectar pneumotórax, pneumonia e infecções hospitalares", diz. "O aparelho também poderá ser usado para monitorar a freqüência cardíaca, mostrando o impacto da respiração artificial no retorno do sangue do corpo para o coração e no preenchimento das cavidades do órgão." O médico calcula que o aparelho deverá estar disponível para os serviços médicos em até dois anos. "O custo por unidade deverá ficar entre US$ 8 e 10 mil, muito inferior ao dos tomógrafos usados para o diagnóstico dos pulmões, avaliados em US$ 1 milhão", afirma. "Serão feitos mais testes clínicos em seres humanos e criados softwares para realizar diagnósticos específicos." O aparelho de tomografia por impedância elétrica foi desenvolvido pela FM em parceria com a Escola Politécnica (Poli) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, por intermédio de um projeto temático da Fapesp. "Uma parceria com a empresa Dixtal irá desenvolver a versão do produto para uso clínico", conclui Amato.
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