Guerra de narrativas. Essa é a expressão do momento. Direita e esquerda se engalfinham em torno da dita cuja que, em resumidas contas, seria a luta para fazer valer uma versão a respeito de determinados fatos, que lhe seja conveniente em termos políticos. Resumindo: é um jogo de palavras ocas que tem consequências políticas reais, para o bem ou para o mal. Naturalmente, podemos aderir, se assim desejamos, a narrativa que é contada pela canhota ou pela destra. Essa, aliás, é uma decisão que cabe a cada um de nós e a mais ninguém. Porém, não nos esqueçamos que credulidade excessiva, seja à direita ou à esquerda, é algo temeroso. Algo que aumenta, significativamente, a possibilidade de sermos feitos de otários de verde amarelo, ou de vermelho e amarelo. Detalhe: essa possibilidade sempre está presente. Sempre. Gostemos ou não de admitir essa realidade, ela nunca deixa de estar diante de nossas ventas. Agora, se somos daqueles que gostam de dosar a percepção dos fatos com uma boa porção de ceticismo, podemos afirmar que, desse modo, estaremos munidos de anticorpos porretas para enfrentar os efeitos colaterais e os impactos diretos dessa guerra verborrágica. A razão disso é bastante simples: se tivermos sempre em mente que para além das narrativas, para além das versões dos acontecimentos, existem os tais dos fatos, e entendermos que esses devem ser investigados, conhecidos por nós, estaremos cultivando em nossa alma uma predisposição salutar de alerta. Não apenas isso. Se nunca nos esquecermos que a referida guerra é o confronto de versões, e que essas devem ser confrontadas umas com as outras e todas elas com os fatos, para verificarmos qual seria a mais razoável e identificarmos qual revelar-se-ia a mais maliciosa, a probabilidade de entendermos o que realmente está em jogo na luta pelo poder se agiganta um bom tanto. Isso não significa que devemos ser neutros. Não é nada disso. Aliás, eis aí uma narrativa bocó: neutralidade. Ceticismo político significa apenas que não devemos esquecer que, como nos ensina Russell Kirk, a prudência é a virtude número um quando o assunto é política, tanto para os agentes políticos como para os cidadãos comuns. Por fim e por isso, todo cidadão deveria cultivar consigo uma boa dose de ceticismo frente aos partidos, ideologias, líderes e tutti quanti. Tal cultivo é indispensável para não confundirmos perigos imaginários com temores reais e vice-versa e, desse modo, para não acabarmos comprando gato por lebre, como tantas vezes fazemos. Fim. Hora do café.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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