Uma polêmica inédita, entre o Conselho Federal de Medicina (CFM) e os Conselhos Estaduais e grande parte dos médicos, surgiu quando o CFM publicou resolução a favor da Telemedicina, ou seja, de consultas médicas não-presenciais, feitas por videoconferência. Essencial para o diagnóstico e o acompanhamento médico dos pacientes, o exame físico não pode ser substituído pela consulta à distância. O CFM teve de reabrir a discussão, dando prazo agora de 60 dias para todos os Conselhos Regionais se posicionarem sobre o assunto. Grande parte da classe médica estranhou a medida do seu Conselho Federal, sem maiores discussões com a categoria, como se comprovou com a reação unânime de todos Conselhos Regionais e ampla polêmica no meio médico. Circulam boatos que alguém poderia estar querendo se beneficiar por haver constituído grupos de atuação em telemedicina, por exemplo. Seja qual for a razão do açodamento do CFM, que deveria representar a categoria a partir de consensos construídos em assuntos sérios como esse, o fato é que o assunto merece discussões mais amplas e pode ter consequências graves para a população. Enquanto pacientes privados, mais instruídos, tem consciência da importância do exame médico presencial, a clientela do SUS pode imaginar estar sendo bem atendida por consultas à distância, pelo computador, numa forma de atendimento que sempre será mais superficial e menos seguro que o atendimento presencial. Em sua defensiva, o CFM alega que a medida seria para pacientes que já tivessem sido atendidos pessoalmente alguma vez e que seria importante principalmente em áreas remotas. Sim, novas tecnologias podem ser úteis em algumas situações e o assunto, em si, merece ser levantado, com propostas que regulem as melhores possibilidades de sua aplicação na prática. Mas as consequências para a qualidade da atenção médica aos pacientes é de grande impacto, podendo gerar na população a fantasia de que é possível um bom atendimento sem o exame clínico. O SUS já tem esse problema no seu cotidiano, de pacientes que se queixam que o médico “nem olhou para mim, nem me examinou”. Pois essa resolução sobre a telemedicina viria a consolidar tal prática, de uma análise de dados (tais como exames e relatos de informações) sobre o paciente sem um exame mais acurado, que já vem sendo o grande problema do atendimento atual. Em vez de melhorarmos a medicina no atendimento público, estaríamos “regulamentando” a superficialidade. Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)
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