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Opinião
18/02/2019 - 06h42
Desgosto sem gosto
Dartagnan da Silva Zanela
 

Uma das facetas da educação, talvez uma das mais importantes, seja a de ensinar o indivíduo a refinar o “seu gosto” a partir daquilo que foi produzido pela humanidade através dos tempos, produção essa que carrega em seu bojo algo que não deveria ser esquecido e que, por sua deixa, pode nos auxiliar a elevarmo-nos em dignidade, espírito e verdade.

Isso vale tanto para a literatura, como para as artes plásticas, para música, enfim, pra tudo.

Para ficar mais claro o que intento dizer, façamos uma analogia: quando pequeninos, a única coisa que inicialmente degustamos é o leite materno. Com o tempo passamos a beber outros líquidos, a comer algumas papinhas insonsas e, com o passar dos anos, vamos diversificando nosso cardápio que passa a ser composto por alimentos mais nutritivos e saborosos. Ou seja: amadurecemos.

Parlando ainda sobre o mesmo exemplo, se não aprendemos a degustar diferentes receitas, a distinguir sabores, a identificar temperos e odores, a apreciar a composição e a apresentação dum prato, isso não nos impedirá de comer, é óbvio, mas irá limitar nosso campo de conhecimento culinário, nos transformando numa pessoa de gosto limitado e de nutrição deficitária.

Nossas mães e avós diriam que seriamos apenas uns enjoados, o que, no fundo, dá na mesma.

Enfim, resumindo o entrevero gastronômico aqui apresentado como exemplo, todo sujeito obtuso invariavelmente acaba julgando tudo que está além de sua compreensão a partir de sua entojada limitação, seja no campo culinário, seja no horizonte do conhecimento.

Ou seja: o dito acima é válido para a música, para a pintura, escultura, cinema, teatro, filosofia, enfim, uma pessoa de perspectiva fechada, acanhada, sempre julgará e condenará tudo o que seja belo, verdadeiro e bom com base em sua baixa medida sobre tudo e todos, de modo similar a um sujeito, que só aprendeu a comer papinhas insonsas e nada mais.

Enfim, não sei dizer se gosto deve ser discutido ou não, mas uma coisa para mim é certa, e a cada dia que passa, torna-se mais e mais clara: quanto mais se norteia a formação dos infantes, quanto mais se organiza a cultura duma época, com base num cronocentrismo tacanho, maior a probabilidade das almas dos indivíduos serem deformadas por não terem sido ensinadas e instigadas a refinar e a aprimorar o seu gosto pela vida não a partir dum entojamento, mas sim, com base em tudo que a humanidade de todos os tempos legou para nós, a humanidade do tempo presente.

Ignorar isso acaba levando a corrupção de nosso discernimento, a perda do senso das proporções e a uma inversão dos valores [sem precedentes]. Inversão essa que se encontra presente em nosso sistema educacional, vicejante em nossa sociedade e, infelizmente, pulsante no coração de cada um de nós.

Chega. Bebamos um café.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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