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SEÇÃO
Crônicas
19/07/2005 - 13h14
Reticências e fermatas
Helena Sut - Agência Carta Maior
 

A lentidão do andamento esculpe o tempo na progressão de algumas emoções, cordas, sopros, corpos, sussurros... Dois seres conjugam-se na co-autoria de uma peça única, a entoação das notas, o rabisco dos versos... Uma canção surge numa melodia diferenciada, parece crescer, ganhar corpo, pode então morrer no horizonte, ser um solfejar distante, um plágio...

Acordes acobertam palavras novas. Uma obra-prima... Talvez uma farsa...

Descompasso. Uma nota continuada suspende o tempo musical do instigante adágio. O verso é interrompido... As palavras não suportam a nota ininterrupta. Uma boca nua, uma mão seca... A palavra cala-se e murcha, deixa-se retratar como uma natureza morta presa às molduras musicais de uma fermata. Vencido o corpo ainda sonha em reticências...

Poderia significar um andante, o acordar alegro, as tantas possibilidades musicais para a formação de um sorriso. Poderia ser o sabor das lágrimas que repousam após o diálogo dramático de uma ópera. Poderia transformar-se numa surpreendente ária, numa ousada confissão. Poderia perder-se num final sem recomeços. Mas...

A ruptura das horas na intermitência de lidar com algo contínuo impõe o silêncio. Os ecos de um adormecer em sonhos, o som a preencher a saudade com a certeza de que algo existiu, a expectativa de um andamento sombreado numa janela fechada, a agonia do pensamento suspenso pela única nota, o medo e a atração de se perder na alheia partitura.

Errantes, algumas inquietações dispersam-se na possibilidade de serem acolhidas pela suavidade de um sentimento prolongado, outras se condensam na imagem da indiferença que reflete as sombras dos improváveis passos futuros. Um olhar triste, passivo aos sons e ao tempo partido... Uma nota apenas a suspender a espontaneidade de um andamento compartilhado.

Fermata com pausa. Suspense. Perdeu-se a magia da cumplicidade da criação. O compasso musical já não marca o tempo de uma expectativa. Em vão os dedos dedilham um andamento animado, mas o alegro já não preenche quem abandonou um verso inacabado... Sem exclamações ou reticências, a narrativa acaba sem mistérios quando não consegue mais surpreender a si própria.

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