18/05/2024  10h43
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
22/02/2019 - 07h36
Sertão na boca da noite
Rangel Alves da Costa
 

Aos fins de semana sempre viajo ao sertão. E cada retorno sempre sentindo algo como se saudade fosse sendo acumulada ainda mais. A vontade que dá é sempre permanecer por lá.

Os ossos do ofício sempre chamam a outros afazeres que não junto àqueles que mais amo: caminhar, como meu pai fazia, pelas ruas singelas do meu Poço Redondo, pelas suas estradas, pelas malhadas das casinhas de cipó e barro.

Como dito, sinto-me sempre mais entristecido toda vez que retorno. E aqui na solidão da capital, em meio ao desencanto da capital, ponho-me então a recordar aquilo que deixei lá nas distâncias sertanejas daquele mundo meu.

Quando a noite começa a surgir, exatamente nos instantes em que o sertão parece mais belo, mais reflexivo, mais nostálgico e até melancólico, aquele retrato ressurge com maior nitidez e melancolia.

Lá no sertão, noutros idos, pontualmente os sinos da Matriz ecoavam seus brados como a dizer que chegada a hora da Ave Maria, da prece, da oração, dos joelhos dobrados perante oratórios.

Um instante em que o candeeiro do sol já se apagou entre as nuvens e os cheiros de cuscuz, de café, de tripa de porco e ovos, perpassam as cozinhas e vão se espalhando pelos ares.

Um instante docemente chamado de boca da noite. Sim, a noite vem bela boca aberta dos horizontes, das paisagens, da natureza. O sol vai embora, a lua desponta, a mataria apenas sussurra, as folhagens dançam ao sabor dos sopros dos ventos e ventanias.

Da cor vermelho afogueada da boca da noite, a cidade vai sendo tingida por outras cores. As luzes lançam seus amarelos, o negrume se estende e vai alargando seu manto noturno.

A lua desce, passeia, toma conta de tudo. Mais tarde as pessoas estarão reunidas em proseados, as vizinhas em suas calçadas, a juventude legislando entre copos na calçada da vereança municipal, os enamorados procurando seus destinos do coração.

Até as portas e janelas irem se fechando no chamado dos sonos e sonhos. Tudo assim em Poço Redondo, no meu sertão amado. E eu aqui, apenas eu e a solidão.

Mas para lá retornarei e novamente sentirei todos os prazeres e sensações da boca da noite. Ouvirei os sinos bradando, sentirei os cafés cheirando pelas cozinhas, ouvirei as preces junto aos velhos oratórios. Abraçarei a chegada da lua e com ela dormirei de braços dados.

Mesmo que nada assim aconteça, certamente acontecerá. Na mente, na vontade, no pensamento.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.