Somos todos frutos do amor. Seja ele duradouro ou circunstancial. De uma forma ou de outra, temos uma família que nos insere no mundo. Um dia, deixamos de ser filhos, e passamos a ver o amor como a mais legítima forma de estabelecer novos laços afetivos. A partir desse dia, vemos que é preciso encontrar uma pessoa a quem possamos amar, através de um processo de aproximação sucessiva, manter essa relação atraente, não desgastante-sufocante e viva com o correr do tempo, seja curto ou longo. E ao lado do amor, deixar correr a vida real. Vivemos, quer queiramos ou não, o tempo da pós-modernidade, essa coisa meio chata de definir, mas que pode ser encarada de vários ângulos e aspectos. Por sermos humanos, não temos selos de garantia, somos fracos e falhos. E temos urgência em viver relacionamentos que nos dêem prazer, apoio e danifiquem o menos possível os nossos sentimentos. Além de tudo isso, como vivemos contextualizados, não podemos fugir muito das regras sociais da família, grupo e local. Somos comparados e comparamos. Temos que crescer profissionalmente, também. "Isto é básico", na linguagem atual. Esse mundo pós-moderno (do computador, celular, emprego externo ou em casa, contas divididas, insegurança pessoal e coletiva, escuta telefônica, caixa eletrônico, carro, liberdade, aditivos sexuais, corpos malhados ou remodelados querendo parar o tempo, motéis e da fragilidade dos relacionamentos) fez o ser humano ficar ainda mais tímido e confuso, admitindo que o seu amor pode se esvair rapidamente. Hoje, além de todas as artimanhas do amor, os casais têm que formar uma sólida base econômico-financeira que os proteja da volatilidade dos empregos e da incerteza do futuro que é a única certeza. Por tudo isso é que já não se estranha que uma pessoa entre em um relacionamento sem encerrar as contas do anterior, de modo a descobrir no outro o que falta "naquele, de antes". Se der certo, fecha as contas de um e abre outra. Há, ainda, as categorias de casados-mornos ou casados-mas-nem-tanto. Nelas, os parceiros têm consciência do desgaste da relação, esperam que os filhos cresçam ou que o tempo faça um milagre. Os amores, até em casas separadas, e não mais apenas em quartos separados, são indícios da fragilidade da consistência afetiva entre as pessoas. Por outro lado, a liberdade atingida permite ainda a troca continua de parceiros, o que banaliza o relacionamento. Ficar com alguém é distinto de amar alguém. Sair para ver o que vai dar é diferente daquela busca romântica e finita do outro. O verdadeiro encontro ou prazer só se dá com o amor. O resto é ato. O tempo não é santo, pois é contaminado pelo dia-a-dia da vida crua e nua, que vemos dentro e fora de nossas janelas.
|