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Crônicas
31/03/2019 - 07h40
Páscoa: um coelho me contou
M. R. Terci
 

A Páscoa é a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante das festas do calendário cristão. Não possuí dia específico - uma vez que sua celebração varia de ano a ano -, mas tem como norma, acontecer entre o dia 22 de março e 25 de abril. No Brasil, como na maioria dos países com maioria cristã e de acordo com o Novo Testamento, essa é a data em que se comemora a ressurreição de Cristo, três dias após ter morrido na cruz.

Assim, para os cristãos, a Páscoa ganhou um novo significado, pois celebra a ressurreição de Cristo e trata da passagem da morte para a vida.

Mas, certa vez, na lua cheia, um coelho me contou uma história curiosa.

O orelhudo confidenciou-me que na antiguidade, nos primórdios das civilizações, muito antes de ser considerada a festa da ressurreição de Cristo, a Páscoa anunciava o fim do inverno e a chegada da primavera, um período, portanto, de transição no ano. Após a treva, chega o período de luzes. A etimologia da palavra páscoa já dizia isso - afirmou o coelho. Do hebreu “peschad” em grego “paskha” e latim “pache” - passagem. Mais ainda, os antigos povos pagãos europeus, nesta época de transição das estações do ano, homenageavam Ostera ou Esther - em inglês, “Easter”, em português, Páscoa. Ostera era a deusa da primavera, representada como uma mulher que segurava um ovo em suas mãos, enquanto aos seus pés nus, saltitavam alegres coelhos - seus irmãos e irmãs -, símbolos da fertilidade. Na equivalência grega, Ostera era Persephone e, na romana, Ceres, e ambas as deusas simbolizam a nova vida.

Nessa época, me disse o coelho, era costume entre os povos que adoravam as tais deusas, decorar ovos de modo a homenageá-las, costume que, apesar da repressão cristã aos povos pagãos, prosseguiu até os dias de hoje. No século X, por exemplo, o rei Eduardo I da Inglaterra, driblava a vigilância da Igreja e banhava ovos em ouro para presentear os amigos e aliados na Páscoa.

O dentuço disse mais.

Muitas civilizações acreditavam que o mundo nasceu de um ovo. Na grande maioria, o ovo cósmico assurge de um período de trevas e caos, como no caso da Índia, onde se acredita que a gansa Hamsa - sopro divino - chocou o ovo cósmico nas águas primordiais e que tal ovo, ao se partir, originou o céu com sua clara e a terra com a gema.

Os chineses, por seu turno, acreditavam que um ovo se partiu ao meio e dessa cisão surgiu a terra - Yin - e o céu - Yang.

Os celtas falavam do ovo da serpente que continha a representação do Universo: a gema era o globo terrestre, a clara o zênite e a casca equivalia aos astros no céu.

Na tradição cristã, o ovo surge como renovação. Muitos países europeus, possuem a crença de que comer ovos no Domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano.

Mas o levado coelho não deixou de se gabar enquanto contava sua incrível história. A fertilidade do coelho, sempre propenso a grandes ninhadas, bem como seu breve período de vida - na natureza não dura mais do que 2 anos -, traz pontos em comum com diversas civilizações antigas e modernas.

Regressando milhares de anos, em direção ao passado, encontramos o nosso amiguinho felpudo sendo venerado no antigo Egito. Lá o coelho representava o nascimento e a nova vida. Outros povos da Antiguidade o consideravam símbolo da Lua. Daí, então, o astro selenita determinar a data da comemoração pascal. O dia da Páscoa, nas Tabelas Eclesiásticas, é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 março - data do equinócio.

Ressuscitado da crença de Ostera, o coelho me disse que chegou na América escondido na bagagem dos imigrantes alemães por volta do ano 1700. Na versão germânica, o danado escondia ovos coloridos que deveriam ser encontrados pelas crianças na manhã do domingo pascal.

Assim, meus amigos, coelhos não botam ovos, mas oportunamente, eles contam histórias que ajudam a explicar os simbolismos da Páscoa.


Nota do Editor: M. R. Terci é escritor, roteirista e poeta. Antes de se dedicar exclusivamente a escrita, foi advogado com especialização em Direito Militar e mestrado em Direito Internacional, Ciência Política, Economia e Relações Internacionais. Autor de Imperiais de Gran Abuelo, publicada pela Pandorga, e o criador da série O Bairro da Cripta, lançada anteriormente pela LP-Books, obras que reforçaram seu nome como um dos principais autores brasileiros de horror da atualidade. Com base em fatos históricos, Terci substitui os castelos medievais pelos casarões coloniais, as aldeias de camponeses pelas cidadezinhas do interior, os condes pelos coronéis e as superstições por elementos de nosso folclore e crendices populares, numa verdadeira transposição do gótico para a realidade brasileira. Seus livros não são apenas para os fãs do gênero horror. Seu penejar é para quem aprecia uma narrativa envolvente, centrada na experiência subjetiva dos personagens mediante as possibilidades que o contexto sobrenatural de suas estórias permite.

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