A Ponte Aérea Rio-São Paulo começou em 1959, naquela época os caiçaras do Litoral Norte, observavam atentos as luzes do avião que vinha do mar e seguia para a montanha. Certa vez, seu Nelson Santos, Manecão e outros sebastianenses saíram para uma caçada. Foram de madrugada para a estrada da Enseada, que hoje é usada para chegar na estação intermediária da Petrobras, em Rio Pardo. Entraram pela mata e, depois de algum tempo, seu Nelson percebeu que estava perdido. Como era um atleta, jogava bola, nadava e fazia pesca submarina, resolveu que continuaria andando até sair na praia. Depois de um tempo o pessoal que o acompanhava na caçada percebeu que ele estava perdido, chamaram, deram tiro pra cima, e nada de seu Nelson dar sinal. Voltaram para o Centro de São Sebastião preocupados, tinham que reunir um grupo maior para fazer as buscas, ninguém tinha coragem de falar para a dona Wilma, eles eram recém-casados. Seu Nelson seguia na mata, acendia uma fogueira, comia alguma coisa e continuava a caminhada que já durava um dia e parte da noite. Até que em certo momento ao parar para descansar, viu o avião da Ponte Aérea Rio-São Paulo e percebeu que estava caminhando na direção errada, seguia para dentro da mata em vez de seguir para o mar. Com essa referência mudou o rumo da caminhada e foi sair na Praia de Camburi, há 54 km de onde entrou na mata, eu não disse que era um atleta? Desceu na estrada São Sebastião/Santos, pediu socorro para o motorista do primeiro ônibus que passou, parou em Boiçucanga onde foi socorrido, comeu, descansou e voltou para o Centro da cidade. Até hoje, apesar das luzes, a passagem desse avião desperta encantamento, principalmente se for um dia de sol, ele deixa um rastro de nuvens no céu e tem sido inspiração para poetas. O Domingos Santos, de Ubatuba, e o Felipe Riela, de São Sebastião, já escreveram sobre ele. Vejam os versos! Ver o que não existe Domingos Santos
Tem dias que consigo ver a ponte aérea Rio-São Paulo, mas tem que ser em dias azuis, com umidade suficiente nos ares para o motor dos aviões deixar um rabicho de vapor para trás. Tem dias que consigo ver uma coisa que não existe. Hoje Felipe Riela
Ao fim da tarde, debruçado na janela do escritório vi um avião rasgando o céu. Disse para mim mesmo que era um disco voador, só pra me alegrar mais. Quantas camadas do véu?...
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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