Podemos, sem dúvida alguma, reencontrar algo que, por descuido, tenhamos perdido. Obviamente que tal procura irá nos dar um baita trabalho, mas, é possível e, em muitos casos, necessária. Agora, se nós simplesmente abandonamos algo, a possibilidade de, um dia, reencontrarmos o que fora abandonado por nós, é mórbida. Digna, inclusive, de atenção especial e tratamento. E assim o é por uma razão muito simples: não temos como reaver aquilo que jamais amamos. Nesse sentido, quando sugere-se que um conteúdo escolar, que acabou não sendo transubstanciado numa nota razoável, que não tenha integrado a personalidade do portador da minguada nota, deveria magicamente ser recuperado, na maioria das vezes essa seria, por definição, uma impossibilidade, tendo em vista que este, o tal do conteúdo, não foi minimamente amado por aquele que não fez a menor questão de conquistá-lo. Ou seja: não é o infante que estaria sendo excluído pela nota baixa que foi obtida por ele, como afirmam os doutos em educação [que nunca educaram ninguém]; foi ele, o educando, que, soberbamente, excluiu impiedosamente o conhecimento daquele conteúdo [e doutros mais] de sua vida. Enfim, é isso o que ocorre quando se confunde bajulação com educação.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|