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Opinião
22/07/2005 - 11h01
Quando tudo mais falha, eles estão lá
Daniel Sant’Anna - MSM
 

A inacreditável quantidade de bobagens escritas e reproduzidas à exaustão sobre o novo filme de Steven Spielberg, "Guerra dos Mundos", ofuscaram o brilho dessa obra-prima do cinema de entretenimento, um filme onde enredo, personagens, ação física, efeitos especiais e ferramentas cinematográficas funcionam em equilíbrio perfeito: nada sobra, nada destoa, são duas horas de uma espetacular experiência filmada.

Os críticos que não entenderam ou não quiseram entender o filme enxergaram nele uma mensagem supostamente pró-Bush, quando todos sabem que Spielberg é um democrata devotado. É possível até observar no filme algumas pistas do inclinamento ideológico do realizador, que apesar disso não comprometem o resultado: a figura do caipira maluco que se refugia no porão de sua casa e diz em certa hora que "todas as ocupações deram errado, a História nos mostra isso", em clara alusão ao Vietnã e ao Iraque; e a distanciada ironia com que o filme trata a paranóia infantil das crianças, que pensam estar sendo atacadas por terroristas ou por algo terrível que teria como origem "a Europa". Mas são detalhes, apenas.

O que o filme tem de mais sutil e belo e nos faz refletir sobre nossa própria cultura cinematográfica é quase um pano de fundo na ação: a presença dos militares. Resignados e bravos, partem para uma luta desigual, sem chances de vitórias. Enquanto a população foge, tentando se proteger, os soldados caminham e voam no sentido oposto, muitos para uma morte certa e cruel frente à devastadora força alienígena. Impossível não se arrepiar com o vôo rasante dos caças em direção aos gigantescos tripods, numa cena de visual impactante; ou com a tristeza dos rostos compenetrados dos homens do exército que observam os protagonistas numa cidadezinha deserta e provavelmente rumam para a morte, mas não desviam de sua missão (a qual muitos de nós certamente recusaríamos, tal o grau de periculosidade, de incerteza, envolvidos).

Enquanto isso, nós, no Brasil, nos acostumamos a aceitar a figura do militar retratada como um covarde torturador e violador de direitos, um caçador implacável de heróicos e românticos guerrilheiros. Ignoramos seu papel, sua coragem inerente e a nobreza com que muitos se entregam a tarefas que fariam gelar de medo o mais corajoso dos civis. Esquecemos como a violência das forças armadas é apenas potencial, controlada, para entrar em ação somente quando uma outra força injusta, incontrolada e perigosa coloca em risco todo um grupo, uma cidade, uma nação inteira que não teria nem saberia como se defender. São eles que mandamos para o front, para a linha de fogo, para a saraivada de balas, quando nenhuma esperança mais nos resta, quando tudo mais deu errado.

Sim, há alguma coisa errada com nossos filmes, com nossas novelas e nossos ficcionistas que parecem não perceber nada disso. E é bom darmos uma olhada em "Guerra dos Mundos" para observar a discreta importância dos soldados que, mais cedo ou mais tarde, no passado ou no futuro, arriscaram ou arriscarão seus pescoços e suas vidas por todos nós, que ficamos trancados em casa ou, muitas vezes, protegidos atrás de mentiras e ilusões.

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