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SEÇÃO
Crônicas
03/05/2019 - 06h27
O pote e o homem
Rangel Alves da Costa
 

No Livro do Eclesiástico, 33:13-14, há uma síntese do quanto o ser humano, ao invés de imaginar dono de si, está sempre na dependência da vontade e do desejo de Deus. Vejam, então: “Como a argila está nas mãos do oleiro para que a molde e dela disponha a seu bel-prazer, assim o ser humano está nas mãos de quem o fez”.

Quem o fez? Assim, Deus, oleiro do mundo, tendo o homem em suas mãos, o fez à sua imagem e semelhança, o fez bom, digno, honrado, o fez humanizado e não desumanizante.

Contudo, de suma importância que o homem, existindo por permissão divina, saiba compreender melhor a lição. O oleiro molda o pote, a moringa, o alguidar e a bacia, por exemplo, não para ser em seguida quebrado, e sim para uso cotidiano. E o homem moldado por Deus, será que lhe é permitido ter outra destinação na sua existência?

Logicamente que não, pois toda transgressão humana foge aos desígnios de Deus e por Este será combatido no tempo certo. O pote foi para a água e não para o veneno, a moringa foi para a água e não para o sangue. E o homem foi para a fraternidade, o amor e a compaixão, ou para a brutalidade, a violência e o desregramento?

Por isso é preciso muito cuidado com as arrogâncias, com os egoísmos e as soberbas. De repente o pote se quebra e ninguém sequer imagina como um simples sopro de vento o fez despedaçado ao chão. Ou de repente a chama da vela apaga. Precisamos pensar mais sobre tudo isso.

E por que, depois de tanto trabalho para fazer o pote, de repente o homem se descuida e o derruba? Simplesmente por que do mesmo modo faz consigo mesmo. Sempre se imaginando muito mais forte que um simples pote de barro, então o homem se entrega aos perigos e à destruição. Então cai e quebra.

Como seria diferente se todos tivessem a noção de sua fragilidade. Com tanta vida e cheio de vida, com toda pose e tanta arrogância, com tanto egoísmo e tanto preconceito, para que, num segundo, tudo se transforme em nada. Num sopro e tudo se vai.

A mulher que tanto necessita do pote para garantir a água na cozinha de casa, para saciar a sede de sua família e de quem chegar, possui o maior cuidado do mundo para que o barro se mantenha intacto. Coloca até cimento se percebe alguma rachadura. E assim age pela importância que dá às coisas.

Quem dá importância às coisas simples dá importância também a si mesmo. Ao invés de destruir, de quebrar, de derrubar, sempre procura proteger cada vez mais. Sabe que tal qual um pote, a vida é apenas um barro que o visgo permitiu viver. Mas nenhuma valia terá se o descuido fizer dom que tudo desabe.

É essa consciência da fragilidade que permite ao homem se fortalecer. Sabe que nada é e que não passa de um pote de barro que o descuido pode derrubar, e então se entrega às forças da proteção. E não há força maior que a força de Deus.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com.br).

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