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Crônicas
23/07/2005 - 09h01
Perseguida jaca
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

Nunca comi uma jaca. Deve ser pelo tamanho, pela grande quantidade de pessoas que dizem detestá-la... sempre que me dizem que um filme é ruim, vou lá e assisto, porque sei que é bom. As exceções são raras e a jaca deve ser deliciosa. Dizem que tem gomos, feito fruta do conde, ou sei lá o que, pois cada pessoa me dá um depoimento diferente. Admito que já estive bem próximo de experimentá-la, mas foi como aqueles beijos que perdemos por um fio, um vacilo de adolescente, como no caso da Luciana.

Eu dormia no sofá da casa da Ciomara, às dez da manhã, quando Luciana chegou. Linda, cabelos longos, olhar meio vesgo, ou era a posição em que me encontrava que não deixava ver direito. Mas as maneiras ao sentar-se, dobrar as pernas, as longas roliças pernas de Luciana! Ficou ali, conversando comigo, com a pasta da faculdade sobre as saias curtas.

Não lembro que inspiração angélica me veio naquela manhã, que lhe falei tudo quanto sentia das coisas que se transformavam em beleza, o quanto os sons, as cores e os perfumes eram importantes para mim, e as estrelas, que me reservavam sítios paradisíacos sempre que me transportava até elas. Luciana revelou então os seus segredos de bailarina antes de levantar-se para fazer o chá.

À mesa, nossas mãos quase se tocaram quando fomos apanhar a colher de açúcar, enquanto nos contávamos de que matéria se compunha o céu...

- O que você fez com minha amiga? - diria a Ciomara no dia seguinte. - Ela não pára de falar em você.

- Fiz como com a jaca, que esteve várias vezes prestes a desmanchar-se em minha boca, mas escondeu-se em detalhes de cada uma das circunstâncias que a aproximaram de mim. Refugiado no banheiro enquanto Luciana arrumava o apartamento, a água morna da banheira compensava todos os meus desejos, de tantas Lucianas que passaram assim, bonitas, elegantes e prontas para mim, mas parecia-me que descobrir aquelas delícias seria perdê-las para sempre, no oceano de todos os saberes acumulados.

- Está precisando de alguma coisa aí? - disse ela da lavanderia, pela fresta da janelinha do banheiro.

- Nada - respondi, como se Deus descascasse a jaca, partisse em pedaços, oferecesse o mais suculento e saboroso e eu o recusasse para poder continuar imaginando como seria, se fosse.

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