Se você, que já foi criança, era quieto ou quieta, talvez tenha ouvido muito palavras como "lerdo" ou "boboca". Infelizmente, crianças quietas são logo tachadas de lentas e apáticas. Ser quieto não é um defeito nem uma qualidade, apenas um jeito de ser da pessoa que costuma ser mal-interpretado pelos que a cercam e, sem conhecê-la bem, vão logo colocando adjetivos pouco lisonjeiros. Mesmo os pais e professores têm preconceitos com crianças e adolescentes mais quietos.

Numa família, é comum que haja filhos mais extrovertidos e esses costumam chamar mais a atenção por sua personalidade exuberante. Diz-se deles que são mais espertos, têm personalidade mais forte e os pais (talvez sem perceber) podem até deixar os filhos mais quietos de lado. Isso quando eles não os discriminam, dizendo que são sem personalidade, não têm opinião própria, são lentos e não participam das coisas. Como as crianças extrovertidas costumam ser mais rebeldes, os pais cedem mais a seus gostos e às vezes, para compensar, querem controlar os filhos quietos, que são mais obedientes e costumam até ajudar mais em casa e não dar trabalho. Infelizmente, isso pode levar a problemas, porque eles ao se verem sempre sendo ignorados, podem acumular raivas pelo fato dos outros sempre ignorarem o que pensam e sentem. E recalcar raiva é perigoso. Um dia, a raiva recalcada poderá se voltar contra eles ou explodir. As pessoas sempre são bem mais do que aparentam.

Ser quieto não significa ser lerdo. A pessoa quieta apenas não revela muito o que sabe e se torna necessário que se dê oportunidade para que ela se expresse. Gente silenciosa é observadora, reflexiva e costuma ter boas ideias. Mas, como pessoas assim geralmente são tímidas, nós vamos logo dizendo que são moscas mortas. Aliás, muitos dos grandes escritores, cientistas e artistas são ou foram pessoas bastante reservadas que encontraram na arte ou na ciência uma forma de expressar o que não falam diretamente. E suas grandes criações artísticas ou científicas são mostras de que possuem ou possuíam um mundo interior bastante rico e complexo.

Na escola, as coisas são piores. Crianças quietinhas são alvo de bullying e, por dificuldade de falar sobre o que lhes acontece, são ignoradas. Os valentões geralmente são covardes que querem bater em alguém mais fraco para se sentir fortes e encontram num aluno quietinho o alvo preferencial. Além disso, embora essas crianças costumem ser boas alunas, os professores não lhes dão muita atenção.

Está na hora de parar de julgar as pessoas apenas por um aspecto exterior. Muitos espíritos brilhantes têm sido discriminados numa sociedade que privilegia os mais extrovertidos e trata as pessoas mais quietas como bobocas sem graça.