"Lula permanece um símbolo, não foi tocado pelas denúncias" - Alain Touraine, sociólogo francês
Conta o folclore futebolístico que, à época da parceria entre os norte-americanos da Hicks Muse e o Corinthians (quando os investidores estrangeiros dividiam tarefas executivas e diretivas com brasileiros), o então técnico do time profissional, Wanderley Luxemburgo, teria entrado em atrito com os de fora, que pretendiam palpitar quanto à escalação do time e contratações. O treinador, em seu estilo habitual, teria dito em bom português aos mesmos que "eles entendiam de hambúrguer, mas de futebol quem entendíamos éramos nós, brasileiros", e que enfim parassem de encher sua paciência dentro das quatro linhas. Contam-nos agora as agências internacionais que Lula foi ovacionado na França e recebido pelos políticos e intelectuais locais como um líder comparável a Ghandi e Mandela. Não faltaram os habituais bajuladores genuinamente nacionais, como o fotógrafo Sebastião Salgado, nas festas, recepções e shows (para quem, lá do outro lado do oceano, ainda suporta ouvir Gilberto Gil cantando "Drão", "Se eu quiser falar com Deus" e outras jóias do nosso cancioneiro nunca antes executadas). O que mais chama a atenção na história toda é a facilidade com que os franceses em geral, sempre tão contundentes quando o assunto é a soberania do Iraque ou do Afeganistão, por exemplo, se dão ao direito de opinar e indiretamente interferir em assuntos brasileiros, fornecendo uma espécie de "blindagem moral" fabricada lá fora para que, aqui dentro, Lula mantenha sua imagem de líder imaculado por qualquer tipo de denúncia ou abominação administrativa cometida por seus homens de confiança. Não sabem eles da ocupação da máquina, da perseguição a que são diária e silenciosamente submetidos aqueles que ousam manifestar-se contrariamente a seu governo e seu partido. Ignoram a confusão instaurada entre partido e estado, a conivência da grande mídia, o aniquilamento imposto gradualmente através da tributação às classes médias, não sabem nada. Só sabem meter o nariz onde não são chamados. Gostaria que nós, brasileiros, pudéssemos, feitos milhões de Luxemburgos, palpitar aos franceses quanto a temas genuinamente franceses, como, por exemplo, sua histórica covardia militar, sua odiosa mania nacional de torturar gansos (que dá origem ao abominável foie gras), o nivelamento por baixo de seu sistema universitário [*] ou mesmo o costume cotidiano de estapear suas crianças. Seria uma boa forma de equilibrar este "câmbio de imagem" desigual, onde Lula se desvaloriza aqui dentro, em reais, mas se revaloriza lá fora, em euros. Ou traduzindo, em português bem claro: Franceses: calem a boca e nos deixem cuidar, por conta própria, dos assuntos inerentes à nossa soberania nacional. [*] Sobre isso ver o excelente livro A Obsessão Antiamericana.
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